quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Troca de felicitações natalícias entre as Igrejas de Jerusalém

Neste 27 de dezembro, as comunidades religiosas cristãs dos distintos ritos (e especialmente as que compartilham o vínculo do Status Quo) se reuniram para trocarem as felicitações natalícias segundo uma tradição já consolidada e que é também um gesto simpático e fraterno de ecumenismo. Pela manhã, visitou o convento de São Salvador as delegações das igrejas Greco-ortodoxa, armênia e etíope, que foram recebidas na Sala do Divã pelo Padre Pierbattista Pizzaballa, Custódio da Terra Santa, e pela fraternidade de São Salvador, e todos guiados por seu guardião, o Padre Artemio Vitores.

O encontro segue um cerimonial fixado que se repete em cada visita: o chefe da delegação que visita saúda o responsável da casa e a comunidade agradece o convite e dá a felicitação de Natal, manifestando seu desejo de prosperidade e bem para o futuro e reafirmando os vínculos de amizade; o responsável da casa o agradece e lhe deseja as mesmas felicitações; continuando, servem-se os licores e doces, momento no qual se estabelecem as conversas informais com os vizinhos; logo se serve o café, que é também sinal de que o encontro chega ao fim, e ao final todos se despedem cordialmente.

Durante a manhã, os franciscanos foram visitar os melquitas, regressando depois para receber a delegação das igrejas copta e siríaca. Depois da Epifania, serão os franciscanos que irão felicitar as igrejas orientais.

Pela tarde, a delegação católica latina fez sua visita, guiada pelo Patriarca, Mons. Fuad Twal, acompanhado por Mons.William Shomali, bispo auxiliar, e Mons. Kamal Bathish, bispo auxiliar emérito de Jerusalém. Naturalmente, o encontro com a delegação latina se desenvolveu em um clima menos formal. O Patriarca e o Custódio, além das felicitações, trocaram impressões sobre a caminhada das celebrações natalícias em Belém, que são sempre fruto de uma estreita colaboração no plano organizacional e de serviços. O Patriarca trocou um afetuoso abraço com o Padre Justo Artaraz, que nestes dias celebrou seu sexagésimo aniversário presbiteral. Os seminaristas franciscanos deram o toque alegre ao encontro com cantos natalícios.

FRC

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos
http://www.custodia.org/Intercambio-de-felicitaciones,9174.html?lang=it

Festa dos Santos Inocentes em Belém


Depois de um número recorde de peregrinos e turistas no Natal, paz e quietude retornaram à cidade onde Jesus nasceu.

Em sua peregrinação a Belém, em 28 de dezembro, para celebrar a memória dos Santos Inocentes, os franciscanos da Custódia da Terra Santa não esperaram ter de fazer seu caminho por uma multidão de fiéis para conseguirem celebrar a Missa Votiva em São José da Gruta, próxima ao altar dedicado aos pequenos mártires. Assim foi o que aconteceu. Sem consultar uns aos outros, muitas religiosas, irmãs do Rosário, irmãs de São José, irmãs franciscanas, irmãs de Madre Teresa, irmãs brigidinas e mesmo irmãs beneditinas, que geralmente são enclausuradas, todas tiveram o mesmo impulso de “visitar e rezar nos lugares santos entre a multidão.

Entre todos criou-se uma atmosfera fraternal e de intimidade durante a Missa presidida pelo Padre Artemio Vitores, o Vigário Custodial. Em sua homilia, ele recordou quão antiga era a tradição dos Santos Inocentes, mencionando não somente os Evangelhos, mas também na tradição da Igreja, com a referência da festa no sacramentário leonino, dos inícios do século V. Padre Artemio então recordou os dramas dos quais as crianças no mundo de hoje são vítimas, incluindo seu nascimento, convidando a assembleia a lembrá-los em suas orações. No final, o Vigário concluiu sobre o que o apelo “voltar a ser como uma criança” pode significar hoje.



Padre Artemio e os estudantes do seminário, que o acompanharam para servir e cantar a Missa, ficaram em Belém para partilhar a refeição com a fraternidade local e mais uma vez de novo, todos os irmãos retornaram juntos à Gruta pela tarde para lembrar os santos inocentes, durante o ofício das vésperas, antes de retornarem à Jerusalém.

Mab

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos
http://www.custodia.org/Feast-of-the-Holy-Innocents-in,9172.html?lang=it

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Belém celebra o Natal com alegria


Sexta-feira, 24 de dezembro. A cidade de Belém celebrou durante 24 horas, sem interrupção, o nascimento de Cristo, ocorrido entre seus muros há pouco mais de 2000 anos. Se todos os dias do ano o mistério do Natal se oferece à contemplação dos peregrinos, no dia do Natal a cidade traz ao mundo a alegria da contemplação do nascimento. Todas as câmeras de televisão do mundo se voltam para ela, uma cidade que desfila ao som dos escoteiros.

Neste ano, 23 grupos percorreram a cidade em um longo e alegre desfile. De 9h da manhã às 13h30 prepararam o caminho para o Patriarca que, saindo de Jerusalém quase ao meio dia, depois de uma parada em Mar Elias e outra na Tumba de Raquel, entrou na cidade fechando o desfile com um cortejo de cerca de 140 automóveis. O bom tempo, ou a alegria de ver tanta gente no caminho, rostos por todos conhecido, animou os motoristas a levarem todo o tempo do mundo, mesmo tendo saído segundo a hora fixada e chegando à Tumba de Raquel conforme o previsto, chegando o carro do Patriarca na praça do Presépio com um grande atraso. O folclore, realizado desde a manhã pela cidade, cedeu lugar às orações que se celebraram na igreja de Santa Catarina e na Gruta para cumprir com o horário imposto pelo Status Quo.

Rapidamente se passou para a entrada solene, sendo frei Stéphane Milovitch o que recebeu Sua Beatitude Monsenhor Fuad Twal diante da porta da Humildade; logo, sem pausas, celebrou-se as Vésperas na Santa Catarina e a procissão à Gruta. Somente às 17h os frades da Custódia da Terra Santa – nesta ocasião tão numerosos quanto na paróquia da qual são encarregados e na Gruta cujo cuidado compartilham com os gregos ortodoxos e os armênios – puderam desfrutar de um momento de descanso. Finalmente, enquanto os sacristães estavam concentrados com os últimos preparativos, outros frades partiram para dar lugar aos 1900 peregrinos que haviam conseguido entrar.



Segundo a tradição, antes da missa se partilha o jantar com o Presidente da Autoridade Palestina, Muhmud Abbas, Abu Mazen e seu séquito. Um jantar presidido pelo Custódio da Terra Santa com o Patriarca ao seu lado.

Neste ano, o grande número de peregrinos que visitou a cidade da Natividade favoreceu uma melhora visível em sua economia que, sem esquecer a barreira de segurança e suas nefastas consequências na população e no comércio, permitiu à cidade celebrar o Natal com alegria. Uma alegria que, contudo, foi abafada por dois acontecimentos: o incêndio no Monte Carmelo que custou a vida do irmão do coronel israelense encarregado do distrito de Belém e ao qual todas as autoridades, cargos públicos e eclesiásticos de Beit Sahur e Beit Jala prestaram suas condolências; e o acidente mortal sofrido no mesmo dia por três das cinco irmãs franciscanas que vinham a Belém do Monte das Bem-aventuranças.

O acidente das irmãs franciscanas afetou profundamente a Custódia, que tem uma relação muito próxima e fraterna com as distintas comunidades do país. Os franciscanos acrescentaram na oração universal dos fiéis uma invocação especial ao Senhor pelas irmãs falecidas, assim como por toda a Congregação.

Foi uma missa muito bela, presidida pelo Monsenhor Fuad Twal, rodeado pelo presidente Mahmud Abbas e seu séquito, junto aos cônsules gerais das quatro “Nações Latinas” (Itália, França, Espanha e Bélgica) e por uma grande assembleia constituída em sua maior parte por peregrinos, religiosos residentes no país e algum cristão local. Os cristãos locais cedem com grande prazer seus lugares aos peregrinos, pois preferem celebrar a alegria do Natal à meia-noite, em sua língua, junto a seus paroquianos e na mesma Gruta.

Além disso, a homilia de Sua Beatitude foi em árabe, precedida por palavras de acolhida e felicitação natalina em quatro línguas, para os telespectadores da missa através do mundovisão. Muitos cristãos locais, latinos e outros, seguiram a celebração pela televisão, escutando a mensagem de Sua Beatitude que invocou o respeito à vida, a atenção pelas crianças e a vigilância sobre o espírito familiar. Depois recordou que este foi um tempo forte para todos os cristãos do Oriente Médio com o Sínodo dos Bispos, pedindo pela unidade dos cristãos e a intensificação do diálogo com nossos irmãos judeus e muçulmanos. “Trata-se de reunir-nos em torno de nossos valores comuns, que são numeroso, como a oração, a piedade, o jejum, a esmola e, sobretudo, os valores éticos”.


O Patriarca concluiu sua homilia com uma chamada à paz: “Nosso desejo para esta festa é que o som dos sinos de nossas igrejas cubram o rumor das armas neste nosso Oriente Médio tão ferido. Que a alegria se desenhe em todos rostos, que a alegria penetre em todos os corações. Rezemos pela paz. Desejamos que a paz desça sobre o povo de Israel, assim como sobre o povo da Palestina e sobre todo o Oriente Médio, para que nossos filhos possam viver e crescer em um contexto sereno”. Como já é tradicional, a delegação palestina se retirou depois do gesto da paz e a missa continuou até concluir com a procissão dos padres à Gruta.

Entretanto, as festas do Natal não acabam aqui. Durante toda a noite e durante todo o dia de Natal, até às 16h30, as missas se sucedem. Para assegurar este serviço, os sacristães franciscanos se organizaram em equipes para o dia e para a noite, com reforço dos estudantes de São Salvador. Cerca de quarenta missas serão celebradas na gruta e nas capelas da igreja de Santa Catarina nestas 24 horas, sem contar com todas as que se celebram no Campo dos Pastores. A missa do dia da paróquia se celebrou inteiramente em árabe e foi presidida pelo novo Patriarca. Foi recebido o agradecimento de frei Marwan Di’des por sua presença e por poder, como um verdadeiro padre, reunir todos seus filhos dispersos por todo o país, de norte a sul, passando por Gaza.

Os cantos natalinos seguem soando nos arredores da Basílica da Natividade, mas os jornalistas já abandonaram a praça. Em Belém, a festa não terminará até que todas as confissões cristãs tenham celebrado seu Natal. Será em 19 de janeiro, festa do Natal para os armênios. Neste dia simbólico de 25 de dezembro, a Custódia deseja um feliz e santo Natal a todos.


Mab

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos
http://www.custodia.org/Belen-celebra-la-Navidad-con.html?lang=it

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Peregrinação natalícia ao Campo dos Pastores


Na tarde do dia de Natal, os frades da Custódia da Terra Santa foram a Beth Sahur, nos dois santuários que recordam o lugar do aparecimento dos anjos aos pastores, um greco-ortodoxo e outro custodiado pelos franciscanos. São as assim chamadas “peregrinationes”, peregrinações que os frades realizam por séculos para rezarem nos lugares que viram os santos eventos no mesmo dia em que se comemora liturgicamente.

O grupo dos franciscanos foi guiado pela primeira vez por P. Stéphane Milovitch, novo guardião do convento de Belém, e mais vinte frades (os outros estavam ainda empenhados nos serviços natalícios solicitados nos outros santuários). A oração na gruta ortodoxa teve início com a Ladainha dos santos, seguida da leitura do Evangelho dos pastores (Lc 2, 8-14) em árabe e latim. No momento em que a passagem evangélica diz que os anjos cantaram o Gloria in excelsis Deo, também os frades entoaram o Gloria e a antífona gregoriana “Angelus as pastores”. A celebração no Campo dos Pastores ortodoxo concluiu-se com o cano “Adeste Fideles”.

Em seguida, os frades foram ao Campo dos pastores latino, onde tiveram de se colocar
entre uma multidão de fiéis. De fato, na noite e no dia de Natal, o santuário franciscano é
particularmente cheio de peregrinos que com os “pastores” vêm celebrar a santa missa de Natal. O responsável do santuário, P. Arkadius, calculou-os sessenta e quatro, entre as quais duas missas celebradas pela comunidade filipina, cada uma com ao menos 150 pessoas. O canto italiano “Tu scende dalle stelle” introduziu a liturgia, mais breve que a precedente, com o mesmo evangelho, proclamado desta vez em italiano. Depois da intercessão, da oração do Pai Nosso e da bênção, o canto “Puer natus in Bethlem” concluiu a peregrinação natalícia dos “Frades da Corda”.

FRC

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos
http://www.custodia.org/Pellegrinazione-natalizia-al-Campo.html?lang=it

Missa da Noite de Natal na Gruta de Belém


“Nós somos sortudos. Podemos celebrar os mistérios de nossa salvação aqui, na gruta onde Jesus nasceu, na manjedoura onde o Menino Jesus esteve deitado, no mesmo lugar onde esses eventos aconteceram. Deixemo-nos levar vantagem completa dessa oportunidade, rezando intensamente pela paz, especialmente na Terra Santa e em Belém”. O pároco de Belém, Padre Marwan Di’des, introduziu a Missa da Noite de Natal na Gruta de Belém com essas palavras.

Talvez nem todos saibam que enquanto a solene Missa da Noite, presidida pelo Patriarca Latino e concelebrado por diversos padres, é celebrado na igreja franciscana de Santa Catarina, na presença das autoridades diplomáticas e com uma liturgia e música solenes, outra Missa da Noite é celebrada ao mesmo tempo na Sagrada Gruta. Existem razões práticas e históricas para isso: a Gruta pode suportar não mais que doze pessoas em seus 30 metros quadrados, por isso a liturgia é celebrada “na parte superior”: somente no final que o Patriarca desce à Gruta carregando a imagem da Criança e então retorna para a grande igreja para a conclusão, depois de primeiro tê-Lo colocado na estrela que marca o local exato do nascimento na manjedoura, onde permanecerá por poucos dias, protegido por um caixa de vidro.

Tudo aconteceu à uma e meia da madrugada; a Gruta pôde permanecer vazia e silenciosa da meia-noite à uma hora e trinta, esperando o Menino, mas nós estamos aqui em Belém, na Terra Santa, onde regras e tradições têm sido aprovadas e bem ajustadas através dos séculos, enquanto tem de ser reivindicadas e declaradas a cada dia com o risco de perdê-las (o famoso Satus Quo dos Santos Lugares); e então naqueles noventa minutos, os “Latinos” puderam celebrar três Missas (duas foram celebradas neste Natal).


Enquanto o Padre Marwan e o vigário paroquial, o Padre Haitham, estavam já prontos na Sacristia, uma dúvida de repente surgiu: pode-se cantar com acompanhamento de violão na Gruta? O Status Quo não vai até esses detalhes e então a melhor decisão tem de ser tomada sabiamente e baseada na experiência. Isso já aconteceu? Sim, no ano anterior, mas os sacristães não sabiam. Quando isso foi feito, nenhum dos que podia reclamar, ou seja, os gregos e os armênios que são os “co-proprietários da Gruta”, reclamaram, e isto é um ponto a favor. Se o certo é uma Missa cantada, os outros não podem interferir no como é feita, ou seja, nos detalhes litúrgicos do rito alheio. Já isso aconteceu no Santo Sepulcro? Talvez com os neo-catecúmenos, mas na capela interna dos Cruzados. O problema logo se transformou numa questão “interna”: é permitido e oportuno usar violão, especialmente na ausência de órgão? Todo esse raciocínio, em que a liturgia, a lei e a história estão entrelaçados, tiveram de ser feitos e foram feitos em cinquenta segundos, quando a hora já havia chegado e o coro na igreja já havia começado o Glória na Missa da Noite. O Padre Marwan tomou a decisão: tudo bem para os violões. Enquanto ele atravessa a igreja, troca olhares com o Guardião de Belém, Padre Stéphane Milovitch, que é também responsável pelo Status
Quo: “Temos violões, e não há problema, certo?” Padre Stéphane sorri e acena consentindo. Conclusão da questão: todos chegam na Gruta, mas não há violões e o canto é a capella. A Missa é rezada pelo Pároco de Belém e então é completamente em árabe. Todos os cantos, incluindo o Hino de Natal, é em árabe. O Evangelho, cantado com melismas e modalidades de sua cultura musical, é particularmente sugestivo, também porque o Padre Marwan canta muito bem. Sobre o altar da estrela, os gregos colocaram seu grande ícone, na qual não estava à tarde durante a procissão. A Missa foi celebrada na manjedoura, no altar erigido no lugar onde os Magos estiveram em adoração ao Menino Jesus: esse é o único lugar onde os Latinos podem celebrar. Há um clima de grande
devoção e intimidade.


Quando a Missa acabou, os celebrantes e parte da assembleia saíram, enquanto alguns italianos entraram na Gruta com os padres que celebrariam na última meia hora, o vigário paroquial, padre Rami Asakrieh e o Padre Jerzy Kraj, que até o último ano foi o guardião do Convento de Belém. Padre Rami começa a Missa em árabe, mas olhando a assembleia, continua em italiano. A Missa é sem canto, como somente restam meia hora, mas ao fim alguém começa a cantar “Você pode vir das estrelas” enquanto os padres retornam à sacristia. Agora, todos têm de sair, porque a Gruta tem de ser preparada de novo para o momento solene presidido pelo Patriarca Latino Fouad Twal. É
Natal de novo em Belém.

Frei Riccardo Cerani

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos
http://www.custodia.org/Midnight-Mass-in-the-Grotto-of.html?lang=it

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Natal 2010: mensagem do Custódio


Paz e bem: A saudação de são Francisco nos ajuda a saborear a eterna novidade do Natal, acompanha-nos para a verdade, afastando-nos de tudo aquilo que empobrece e torna ambíguo o significado desta festa. Não deixemos que passe em vão este enésimo, embora sempre novo, Natal.

O natal não pode deixar de inquietar-nos: é uma festa que parece ter perdido seu sentido mais íntimo e autêntico, e que nos leva a perguntar quem é para nós aquele menino, a ver Deus em um menino, a crer em um Deus que escolhe encerrar toda a sua grandeza na pequenez da nossa humanidade.

E o Natal não é somente Jesus que nasce em Belém, onde nasceu historicamente há pouco mais de dois mil anos atrás. Natal é Jesus, Filho de Deus, que também este ano, como a cada dia desde quando se é encarnado, para os homens do seu tempo e para cada um de nós hoje, espera que deixemos um lugar para Ele, espera de nascer no nossos corações. O Natal é um tempo de conversão. É aceitar e responder às esperanças de Deus.

Chamados pela fé a esperá-lo na sua glória, o Natal vem fixar a nossa atenção na infinita espera de Deus para que a humanidade encontre um lugar para Ele na história cotidiana, na vida de todos os dias, na solidariedade humilde que nos pediu Jesus mesmo, assegurando-nos: Eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo; dizendo-nos também onde podemos encontrar os seus olhos e as suas mãos, por onde caminhar juntos e para onde dirigir o nosso olhar no horizonte pelo qual Ele voltará: pobres sempre os tereis convosco…

Não o deixemos passar em vão. Que a palavra de Deus nos ajude e nos guie a conservar a esperança, enquanto esperamos que venha o Senhor da Glória.

O menino Jesus nos livre do medo de estar no dia-a-dia da história, na solidão de quem não sabe fazer-se dom aos outros, e nos reúna em um movimento coral onde nos descobrimos transladados pelo amor e capazes, pela graça, de levar avante esta parte da história, única e preciosa, que o Senhor colocou entre as nossas mãos.

Que o Natal seja para todos esta conversão do olhar, de dar-nos conta de que o Reino de Deus avança, antes é já presente; que eu, nós, todos juntos, podemos fazer com que realmente se torne presente. Eis agora a necessidade de olhar a criação, olhar o mundo, olhar o Oriente médio, esta “nossa” Terra Santa – Terra de Deus e Terra dos homens – “do alto”, com o olhar de Deus. Façamos nossa, com audácia, humildade e força, com a coragem e a fantasia do sonho que se torna realidade se somos muitos a sonhá-lo, as palavras do Papa Bento XVI na inauguração do sinodo dos Bispos do Oriente médio: “olhar esta parte do mundo pela perspetiva de Deus significa reconhecer nela o berço de um plano universal de salvação no amor, um mistério de comunhão que se realiza na liberdade e por isso pede aos homens uma resposta”. A cada um é dada a responsabilidade de acolher a proposta Daquele que nos criou e que renova em nós, a cada dia, a sede de sermos felizes.

Não deixemos que passe em vão. Respondamos à esperança de Deus, que se fez menino para que pudéssemos andar até Ele como se Ele necessitasse de nós, por que a certeza da nossa esperança está no saber que Deus nos espera, pacientemente, desde muito tempo.

Acolhidos pela Sua esperança, renovados pelo seu perdão e pela sua graça, homens de misericórdia e de reconciliação, de liberdade e de justiça, seremos capazes de escutar – em meio aos ruidos da nossa confusa realidade – o anúncio dos anjos: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados.

Feliz natal!

http://www.custodia.org/Natal-2010-mensagem-do-Custodio.html?lang=it

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cristãos e Judeus discutem sobre o Sínodo dos Bispos para o Oriente


Uma vez regressados os bispos da Terra Santa da Assembleia especial do Sínodo para o Oriente Médio, multiplicam-se as iniciativas nos diferentes países para apresentar aos fiéis e a todos aqueles interessados nas reflexões as questões que se estudaram, as perguntas que foram feitas e os meios para levar a cabos as 44 resoluções finais que se publicaram por motivo deste momento tão intenso para a Igreja da região.

Um destes encontros foi o que se celebrou em Jerusalém na quarta-feira 15 de dezembro. Sua dupla originalidade se baseia, em primeiro lugar, no fato de que tal encontro foi organizado pela Assembleia dos Ordinários da Terra Santa em colaboração com o Instituto de Jerusalém para os Estudos sobre Israel (Jerusalem Institute for Israel Studies - JIIS), o Centro de Jerusalém para as Relações Judeo-Cristãs (Jerusalém Center for Jewish-Christian Relations JCJCR) e o Conselho de Coordenação Inter-religiosa em Israel (Interreligious coordinating Council Israel ICCI); e, em segundo lugar, pelo fato de que se desenvolveu em língua hebraica.

O primeiro grupo de oradores foi formado por pessoas que viveram o Sínodo do lado de dentro.

Monsenhor William Shomali, bispo auxiliar do Patriarcado Latino de Jerusalém, expôs as intenções e finalidades do Sínodo. Foi o único orador que utilizou o inglês para falar.

O padre Pierbattista Pizzaballa, Custódio da Terra Santa, falou – assim como na Assembleia de Roma – sobre a universalidade da Igreja da Terra Santa.

O padre David Neuhaus, Vigário patriarcal encarregado da comunidade católica de língua hebraica, evocou o papel importante da língua hebraica no Sínodo, descrevendo-o como uma agradável surpresa para os israelitas.

De fato, esta foi a primeira vez que a Rádio Vaticana abriu uma página diariamente atualizada em língua hebraica, realizando traduções e entrevistas. Este trabalho, sustentado economicamente pela Custódia da Terra Santa, funcionou durante a Assembleia graças à Hanna Bendcowsky, do Centro de Jerusalém para as Relações Judeo-Cristãs. Este serviço está programado para continuar, embora esteja interrompido até que se consiga criar uma equipe capaz de assegurá-lo a longo prazo.

Também interveio Hanna Bendcowsky, israelense e judia, para partilhar sua experiência em meio aos prelados e sua percepção sobre a dinâmica do Sínodo. Ela, entre outras coisas, não imaginava que um dia se encontraria fumando um cigarro e compartilhando café com homens de hábito... nada mais e nada menos do que os cardeais do Vaticano! Havia algo surrealista e apaixonado na forma em que Hanna viveu as relações judeo-cristãs e como o Centro de Jerusalém as expressou. Por outro lado, a reunião se abriu com um minuto de silêncio em memória de Daniel Rossing, fundador do centro e recentemente falecido.

Antes de Hanna, falou o Sr. Soubhi Makhoul, diácono e administrador do Exarcato maronita de Jerusalém, que falou da presença de leigos (entendendo por leigo o cristão comprometido mas não “clérigo”), em particular dos jovens e das mulheres nos trabalhos do Sínodo.

Depois destes breves testemunhos, houve outras três intervenções de judeus israelenses que falaram de forma mais geral sobre as dificuldades que subsistem no diálogo entre judeus e cristãos, e especificamente em Israel, sobre a ignorância ou a indiferença dos judeus com relação ao cristianismo, alimentando as polêmicas tradicionais.

O Sr. Ammon Ramon, investigador do Instituto de Jerusalém para os Estudos sobre Israel, enunciou os temas principais tratados no Sínodo.

O Rabino Ron Kronish, diretor do Conselho de Coordenação Inter-religiosa em Israel, falou da necessidade de um melhor conhecimento do cristianismo no país.

A sra. Yisca Harani, investigadora especializada no Cristianismo, voltou a falar de como se recebeu o Sínodo em Israel.

Ao final destas intervenções, o representante do Ministério de Assuntos Exteriores de Israel sublinhou, com razão, que a presença cristã em Israel aumentou em número e que não deveria sofrer nenhum tipo de pressão. Expressou sua desilusão pelo fato de que, durante a Assembleia dos Bispos, algumas vozes à margem do Sínodo, mas com grande ressonância
midiática, levantaram-se contra Israel.


O auditorium do Instituto de Jerusalém para os Estudos sobre Israel ficou pequeno para acolher tantas pessoas que foram participar deste colóquio. A maioria era composta por israelenses, mas também se notava uma forte presença de cristãos residentes em Israel, entre eles alguns membros da comunidade católica de língua hebraica.

Este intercâmbio e os encontros que produziram se inscrevem em um contínuo esforço de diálogo e de compreensão recíproca. Se o Sínodo se dedicou fundamentalmente pra tratar das relações do Cristianismo com o Islã, é porque, como recordou Monsenhor Shomali, a presença cristã no Oriente Médio é uma minoria em um âmbito de maioria muçulmana.

Há que se recordar que os países muçulmanos representados no Sínodo eram Egito, os Emirados Árabes, Irã, Iraque, Jordânia, Kwait, Líbano, Síria, Turquia, Djibuti, Tunísia, Marrocos, Líbia e Argélia. Também aqui, na Terra Santa, em Israel e nos território palestinos, entre judeus e muçulmanos, a cristandade é uma minoria.

Porém, as mesmas questões que surgem das relações dos cristãos com o Islã e dos muçulmanos, surgem com o judaísmo e os judeus. Como conhecer melhor, como abrir-se ou perseguir um diálogo respeitoso, quais são os direitos e deveres dos cristãos nos países onde a religião condiciona a vida dos cidadãos... etc?

O debate foi bastante fervoroso para terminar em tão pouco tempo.

Mab

Jerusalem Institute for Israel Studies http://www.jiis.org/
Jerusalem Center for Jewish-Christian Ralations http://www.jcjcr.org/
Interreligious coordinating Council in Israel http://www.icci.co.il/
Assemblée des Ordinaires de Terre Sainte http://catholicchurch-holyland.com/

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos
http://www.custodia.org/Cristianos-y-judios-discuten-en.html?lang=it

As escolas da Terra Santa se preparam para o futuro

Quarta-feira, 15 de dezembro. O Custódio da Terra Santa, frei Pierbattista
Pizzaballa, participou da reunião mensal dos diretores dos centros educativos da Custódia, as chamadas Escolas da Terra Santa.

O Custódio manifestou o desejo, para os anos que ainda lhe restam, de investir preferencialmente no sustento das escolas da Custódia, esperando, ainda que se apresentem novos desafios, poder discernir com os diretores e educadores as iniciativas a adotar.

O primeiro desafio é consequência das diferentes trocas legais impostas tanto pelo Estado de Israel como pela Autoridade Palestina. Trocas que, às vezes, acontecem muito rápidas. Nos últimos anos, essas mudanças afetaram as competências dos próprios diretores. Mesmo hoje a Custódia pode seguir dispondo de diretores franciscanos ou religiosos com o cível universitário e
linguístico solicitado (em árabe e hebraico ou, como em Israel, os dois)... Até quando será assim? Será preciso, algum dia, confiar a direção das escolas a diretores leigos?

Surge, então, o segundo desafio. Qual será, em tal caso, o modo de conservar a identidade religiosa e a espiritualidade franciscana?, como se poderá transmitir esta identidade aos alunos que em sua maioria são ou serão de confissão muçulmana?

É verdade que já há 201 anos a Custódia acolhe estudantes muçulmanos em suas próprias escolas, mas a oscilação das proporções interroga sobre o testemunho cristão no coração das escolas. E isto é, ao menos, o mais essencial, ainda que seja necessário fazê-lo de maneira ainda muito mais respeitosa.

De sua parte, os diretores, partilhando suas experiências e também as dificuldades, sublinharam a importância deste Departamento para as escolas. Manifestaram seu desejo de que este encontro, deste Departamento, converta-se em um lugar de avaliação que lhes permita seguir mais de perto as questões legislativas, expressando sua vontade de reunirem-se periodicamente, uma vez por região, para retomarem as questões legais, e uma vez todos juntos para discutirem as questões educativas que são as que se partilham com maior frequência.

A Custódia gerencia na Terra Santa dez escolas, e entre sete e oito mil alunos, mas cada escola está fortemente influenciada pelo lugar em que se encontra. O que tem em comum a pequena escola de Jericó, longe de todos, numa cidade da Cisjordânia onde vivem somente um punhado de cristãos, e a grande escola de Nazaré, onde os jovens cristãos árabes convivem de maneira bastante positiva em meio aos israelitas? Que relação há entre as escolas mistas, masculina e feminina de Jaffa, em Israel, onde a população árabe cristã está desaparecendo, e as escolas não mistas de Belém? Como respeitar estas diferenças e ao mesmo tempo manter uma linha de ação comum com relação aos meios e às competências que inspiram o mesmo espírito franciscano?

Estas são as questões que, de um modo mais visíve,l um Departamento para as escolas, melhor ancorado no coração da Custódia, poderá ajudar a enfrentar.

Mab

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos
http://www.custodia.org/The-Terra-Santa-schools-prepare.html?lang=it

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Antonio Barluzzi, um arquiteto italiano na Terra Santa


O que tem em comum a Basílica do Monte Tabor e a de Getsêmani? A fachada de estilo cruzado da
Flagelação e a tenda cúbica, quase cubista, do Campo dos Pastores de Beit Sahur? Um homem:
Antonio Barluzzi.

Arquiteto italiano, Antonio Barluzzi consagrou sua vida ao Senhor mesmo sendo leigo. Foi talvez a oração que o converteu em arquiteto incansável e que nunca deixasse faltar imaginação?
Em cada uma das 24 igrejas, hospitais e escolas que construiu ou restaurou, entre 1912 e 1955, Barluzzi adotou ao mesmo tempo um estilo antigo, como no Monte Tabor – cuja inspiração veio da
igreja de São Simeão, ao norte da Síria setentrional – e totalmente renovado como no Dominus
Flevit ou no Campo dos Pastores. Sua atenção se concentrou no pequeno detalhe, tanto na
arquitetura como na decoração dos edifícios, mosaicos, afrescos, vitrais, chegando inclusive a
desenhar as lâmpadas dos Santos Lugares.

Este é o personagem, atípico, nacionalista – como era normal na época –, fervoroso cristão, viajante incansável, que as duas conferências no Convento de São Salvador de Jerusalém fizeram reviver neste quinquagésimo aniversário de sua morte.

A primeira foi escrita pelo senhor Giovanni Maria Secco Suardo, amigo da família Barluzzi, que
infelizmente não pôde estar presente por motivos familiares. A leitura foi feita por frei Giorgio Vigna, comissário da Terra Santa para o Piamonte. Esta intervenção, cheia de anedotas, deu vida ao homem, ao contexto e à espiritualidade que animava o arquiteto. A segunda intervenção a apresentou a senhora Giovanna Franco Repellini. Seu encontro com Antonio Barluzzi ocorreu há alguns anos por ocasião de uma peregrinação à Terra Santa.

A arquiteta italiana, a sra. Repellini ficou impressionada pela criatividade de Barluzzi e, percebendo que toda sua obra não era tão conhecida, propôs a estudá-la e fazê-la conhecida. A conferência tinha como objetivo este apaixonante trabalho, cujo resultado, por falta de tempo e não de paixão, foi apresentado brevemente.



Os dois textos serão publicados brevemente no site da Custódia. Entretanto, os moradores da Terra Santa que tenham perdido a conferência, terão a oportunidade de visitar a mostra dedicada a Antonio Barluzzi, que será aberta ao público a partir da segunda-feira, 20 de dezembro no Christian Information Centre, por ocasião destas comemorações.

Ao final da jornada, o Custódio da Terra Santa afirmou que as propostas para a restauração
e adaptação dos Santos Lugares – algumas delas bastante extravagantes – não faltam. Além disso,
o aprofundamento no conhecimento do desenho que prevaleceu nos edifícios atuais demonstra
a prudência que se observou na conservação deste patrimônio, precioso testemunho de uma
época, de um estilo, de uma fé.

Mab


LISTA DE EDIFÍCIOS DESENHADOS, CONSTRUÍDOS OU RESTAURADOS POR
ANTONIO BARLUZZI

1. Igreja das Nações, no Jardim de Getsêmani
2. Igreja da Transfiguração, Monte Tabor.
3. Igreja do Hospício do Bom Pastor, Jericó.
4. Igreja da Flagelação (restauração).
5. Igreja da Visitação, Ain Karem.
6. Claustro de Belém (restauração).
7. Igreja de São Lázaro, Betânia.
8. Igreja dos Anjos, Campo dos Pastores, Belém.
9. Dominus Flevit, Monte das Oliveiras.
10. Igreja de Betfagé (restauração).
11. Escola feminina em Jericó.
12. Hospital em Ammán, Jordânia.
13. The Kerak Hospital, Jordânia.
14. Igreja das Bem-aventuranças, Galileia.
15. Patriarcado Armênio Católico, Beirut.
16. Igreja e outros edifícios em Ammán e Madaba, Jordânia.
17. Igrejas paroquiais de Beit Sahur, Irbid e Zerka.
18. Casa dos padres carmelitas, em Haifa.
19. Igreja do Monte Carmelo.
20. Convento de Santo Antônio, Jerusalém.
21. Mosteiro etíope (restauração).
22. Locais da legação italiana em Teerã (restauração).
23. Terra Santa School, Jerusalém.
24. Igreja grega da Santa Face e Santa Verônica, em Jerusalém (restauração).

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Chefe de Estado Maior do Exército Italiano visita a Custódia

Ontem pela tarde, o Chefe de Estado Maior do Exército Italiano, General Valotto, e sua esposa Maria, foram recebidos pelo Padre Custódio.

O General, em uma visita oficial a Israel, quis dedicar um dia de peregrinação à Jerusalém, com o Padre Quirico Colella OFM, que é o capelão dos soldados italianos no Oriente Médio por mais de 20 anos, que foi seu guia. Falando sobre as relações entre Itália e Israel, o General expressou sua gratidão e reconhecimento pelo memorial no Monte do Precipício, onde o Estado de Israel plantou árvores pelos soldados italianos mortos no Afeganistão.

O General e sua esposa disseram ao Padre Custódio sobre suas experiências de peregrinação e da intensidade de suas emoções durante o dia. O encontro terminou com uma troca de saudações natalinas e presentes e o Custódio da Terra Santa deu a medalha de ouro do peregrino ao Chefe de Estado Maior.

Marco Gavasso

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos

Nossa Senhora de Guadalupe, aquela que nos traz o Salvador

Com é tradicional, no domingo mais próximo ao 12 de dezembro se celebra a festa de Nossa Senhora de Guadalupe no convento de São Salvador, que neste ano reuniu, além dos estudantes franciscanos, alguns sacerdotes e fiéis sul-americanos e filipinos.

Nossa Senhora de Guadalupe, declarada “Rainha do México e Imperatriz das Américas” no ano 2000 pelo Papa João Paulo II, está no coração de todos os latino-americanos há cerca de 300 anos e no dos filipinos desde que o Papa Pio XI estendeu seu patrocínio a este país, no ano de 1935.

O Vigário Custodial, frei Artemio Vítores, presidiu a celebração. Em sua homilia, destacou a ternura que demonstrou a Virgem Maria com Juan Diego, para quem apareceu em várias ocasiões. O Vigário insistiu também na importância que estas aparições tiveram na evangelização das Américas, recordando naturalmente o papel que os franciscanos tiveram na dita evangelização. O Padre Artemio Vítores pediu aos fiéis que estas mensagens não se tomem como um testemunho do passado, mas, pelo contrário, convidou a assembleia a atualizá-lo e encarná-lo no presente.

Neste ano não houve procissão ao finalizar a missa, animada alegremente pelos violões dos estudantes. As ruas estavam pouco transitáveis e perigosas devido à areia que a tempestade trouxe do deserto com a chuva que tem caído.

Apesar disso, a assembleia se reuniu para compartilhar a alegria e degustar as especialidades típicas latino-americanas – especialmente mexicana – ao som da música.

Mab

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos

Comunidade católica indiana de Israel: a dois passos do Natal

No sábado, 11 de dezembro, cerca de 400 peregrinos católicos de rito latino e de origem indiana realizaram uma peregrinação de Jerusalém até Belém para se prepararem para o Natal. Há mais de 2000 católicos indianos na Terra Santa. Há um ano o padre Jayaseelan, da Ordem dos Frades Menores, é o capelão que se encarrega do caminho desta grande comunidade. “São imigrantes que vieram buscar trabalho em Israel. Com frequência ocupam os postos mais humildes e dão testemunho com o trabalho e a simplicidade da vida cotidiana sua essência cristã, inclusive aos irmãos de outras confissões que encontram na cotidianidade”, conta-nos o padre Jaya.

Com sua iniciativa, o padre Jaya organizou esta peregrinação como preparação para o Natal de seus fiéis. “É uma preparação física, menta e espiritual. Percorremos a pé o caminho que percorreram a Sagrada Família e os três Reis Magos e tentaremos reviver a experiência dos pastores, que foram os primeiros que se puseram a caminho para adorar o Salvador”.

“É uma experiência visível de nossa fé e da fé desta comunidade”, continua o padre Jaya com entusiasmo. “Esta gente vem de diferentes lugares de Israel, com suas famílias, com seus filhos. Hoje se unem para caminharem sob a bandeira da Igreja, da Terra Santa e da Índia, rezando, manifestando sua esperança e se preparando para o nascimento do Emanuel”.

Uma meditação no Santo Sepulcro, às 8h da manhã, deu início à peregrinação que posteriormente se diluiu pelas vielas da Cidade Velha até chegar ao Patriarcado Latino, onde Sua Excª, Monsenhor Shomali, bispo auxiliar de Jerusalém, recebeu-lhes com uma calorosa saudação e lhes deu sua bênção. Depois de uma breve oração na Porta de Jafa, começou uma longa caminhada acompanhada incessantemente por cantos e da recitação do rosário. Pouco
depois do check point para entrar em Belém, a chuva, tão esperada desde há muito tempo, surpreendeu os peregrinos que estavam a poucos quilômetros da chegada. Entretanto, o grupo não desanimou e continuou seu caminho cantando e rezando até o lugar, encharcados, mas cheios de alegria, a Basílica da Natividade.

Uma pequena representação em nome de todos participou da procissão da Gruta da Natividade com os frades franciscanos enquanto o restante preparava a santa missa. Uma celebração eucarística festiva pôs fim à peregrinação desta viva comunidade cristã, que fixou seu próximo encontro para 24 de dezembro na Terra Santa School Campus, de Jaffa, às 20h30, para
celebrarem juntos o Natal.

Marco Gavasso

Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sínodo: Custódio da Terra Santa faz balanço final

Para um balanço sobre os trabalhos do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio, a Rádio Vaticano ouviu o Frei Pierbattista Pizzaballa, o Custódio da Terra Santa:

R. - É um balanço positivo. Como eu sempre disse, não há resultados operativos, mas foi uma experiência maravilhosa de Igreja encontrar todas as realidades eclesiais do Oriente Médio reunidas aqui em Roma, com Pedro e numa troca de opiniões, de idéias e experiências que enriqueceu a todos. Talvez não tenha resolvido todos os problemas, mas nos deu uma visão mais lúcida da situação e também perspectivas.

P. - Vocês franciscanos são os custódios dos lugares santos ligados à presença de Jesus na Terra Santa, lugares caros a toda a cristandade e esta condição lhes dá um pouco “o termômetro da comunhão entre as igrejas, entre os cristãos. Quanto trabalho deve ser feito ainda, qual contribuição o senhor acredita que este Sínodo deu?
R. – Certamente, há ainda muito o que fazer. É verdade que foi feito um grande caminho, que muitas Igrejas ortodoxas se aproximaram, mas permanece o fato das suspeitas, dos preconceitos e dos medos que ainda são muito visíveis e tangíveis. Nos lugares Santos e na Terra Santa isso se percebe muito bem. O Sínodo chamou a atenção para muitas questões e foram feitos pedidos precisos e específicos às Igrejas irmãs ortodoxas; esperamos que isso seja o início de um novo modo de se falar, mais franco e claro.

P. – O senhor acha que este Sínodo tenha incentivou a dimensão do testemunho?
R. - Sim, porque isso significa concretamente viver como cristãos na nossa realidade, que é uma realidade de minoria em relação à maioria muçulmana e judaica em Israel. Como viver esse testemunho? Primeiro, numa maior comunhão entre as Igrejas católicas, em maior harmonia com as Igrejas ortodoxas e, especialmente, sendo capazez de se consumar, investir e participar na vida pública do país de forma positiva e construtiva.

P. – No centro da atenção dos Padres sinodais, nestes dias, esteve também a necessidade de aumentar o diálogo com as outras duas grandes religiões monoteístas. Qual a contribuição desse Sínodo?
R. - Este Sínodo discutiu longamente sobre a relação, sobretudo, com o Islamismo; um pouco menos, por razões óbvias, com o Judaísmo. Em alguns países, essa experiência é dramática, enquanto em outros é mais positiva e essas duas realidade foram discutidas no Sínodo. Mas o que é comum a todos - e é um pedido muito forte - é a plena cidadania, plenos direitos, o desejo de colaborar e de construir juntos o futuro, o projeto e a visão da sociedade do Oriente Médio. Eu acredito que este Sínodo será lembrado como um momento muito claro, muito forte e muito franco; não houve impulsos positivos acríticos e nem mesmo houve um desejo de criticar, só por criticar. Foi um Sínodo muito realista. Acredito que o diálogo, assim, se tornará mais concreto.

P. - Apesar do caráter pastoral do Sínodo, inevitavelmente discutiu-se sobre o conflito israelense-palestino e o impacto que o mesmo tem na vida dos cristãos na Terra Santa. Hoje a resolução deste conflito vive um período de impasse. Qual é a contribuição dos cristãos?
R. - Os cristãos não poderão dar uma contribuição operativa, concreta, visível e tangível, hoje, imediatamente. Os cristãos podem, através das relações internacionais, manter viva a atenção da comunidade internacional para o problema, que é um problema real. Podem testemunhar, com a vida e no território, a capacidade de não desistir, de olhar para frente com uma atitude positiva.

P. - Este Sínodo pode ser visto como um novo ponto de partida?
R. – Absolutamente sim. Não é o fim mas o início de uma nova experiência. Certamente teremos uma nova forma de sentir-se Igreja, de maior comunhão. Uma das resoluções, um dos desejos mais forte de todos os Padres sinodais é continuar a encontrarem-se para poder conversar. Esse desejo já existia e agora é mair forte.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Papa encerra Sínodo convidando à paz e à comunhão

Vaticano - Nunca podemos nos resignar diante da falta de paz, apesar das dificuldades: esta foi a mensagem de Bento XVI durante a Missa solene de encerramento da Assembleia do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio, celebrada no Altar da Confissão, com 177 padres sinodais e 69 colaboradores concelebrantes.

Durante a homilia, o Pontífice quis lançar uma mensagem de apoio aos cristãos do Oriente Médio, "que se encontram em situações difíceis, às vezes muito duras, tanto pelos problemas materiais como pelo desânimo, pelo estado de tensão e pelo medo".

No entanto, Bento XVI sublinhou a importância de que os cristãos dessa região assumam um papel protagonista na busca da paz, superando o medo e as dificuldades.

Estes cristãos, sublinhou, "ainda que poucos em número, são portadores da Boa Nova do amor de Deus pelo homem, amor que se revelou precisamente na Terra Santa, na pessoa de Jesus Cristo".

O Papa também destacou a importância da experiência de comunhão vivida durante as duas semanas de duração do Sínodo.

Em especial, referiu-se às Celebrações Eucarísticas realizadas cada dia, "assim como na Liturgia das Horas, realizada cada manhã em um dos 7 ritos católicos do Oriente Médio". Isso serviu, afirmou, para valorizar "a riqueza litúrgica, espiritual e teológica das Igrejas Orientais Católicas, além da Igreja Latina".

Neste sentido, expressou seu desejo de que "esta experiência positiva se repita também nas respectivas comunidades do Oriente Médio, favorecendo a participação dos fiéis nas celebrações litúrgicas dos demais ritos católicos e, portanto, a abertura à dimensão da Igreja universal".

Em sua homilia, o Pontífice também anunciou a convocação da próxima Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em 2012, sobre o tema "Nova evangelizatio ad christianam fidem tradendam - A nova evangelização para a transmissão da fé cristã". "Durante os trabalhos da Assembleia - afirmou o Papa - se sublinhou frequentemente a necessidade de voltar a propor o Evangelho às pessoas que o conhecem pouco ou que inclusive se afastaram da Igreja."

"Muitas vezes - prosseguiu - se evocou a urgente necessidade de uma evangelização também para o Oriente Médio. Trata-se de um tema muito difundido, sobretudo nos países de antiga cristianização."

E acrescentou: "Também a recente criação do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização responde a esta profunda exigência".
O Papa encerrou sua homilia desejando "que a experiência destes dias vos garanta que não estais sozinhos jamais, que vos acompanham sempre a Santa Sé e toda a Igreja, a qual, nascida em Jerusalém, estendeu-se pelo Oriente Médio e depois pelo mundo inteiro".


Íntegra da Homilia do Papa Bento 16

Veneráveis Irmãos,
Ilustres Senhores e Senhoras,
Caros irmãos e irmãs!

Após duas semanas da Celebração de abertura, estamos reunidos novamente no dia do Senhor, ao redor do Altar da Confissão da Basílica de São Pedro, para concluir a Assembléia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos. Em nossos corações existe uma profunda gratidão a Deus que nos deu esta experiência verdadeiramente extraordinária, não apenas para nós, mas para o bem da Igreja, do Povo de Deus que vive na região entre o Mediterrâneo e a Mesopotâmia. Como Bispo de Roma, desejo partilhar este reconhecimento com vocês, veneráveis Padres Sinodais: cardeais, patriarcas, arcebispos, bispos. Agradeço em particular ao Secretário Geral, aos quatro Presidentes Delegados, ao Relator Geral, ao Secretário Especial e a todos os colaboradores, que nestes dias trabalharam sem descanso.

Esta manhã deixamos a Sala do Sínodo e viemos “ao templo para rezar”: por isso, nos é adequada a parábola do fariseu e do publicano relatada por Jesus e registrada pelo evangelista São Lucas (cfr 18, 9 – 14). Também nós poderemos ser tentados, como o fariseu, de lembrar a Deus os nossos méritos, pensando no empenho destes dias.

Mas para subir ao céu, a oração deve brotar de um coração humilde, pobre. E portanto também nós, ao término deste evento eclesial, queremos antes de tudo agradecer a Deus, não pelos nossos méritos, mas pelo dom que Ele nos deu. Reconheçamo-nos pequenos e necessitados de salvação, de misericórdia; reconheçamos que tudo vem d’Ele e que somente com sua Graça se realizará o que nos disse o Espírito Santo. Apenas assim poderemos “voltar para casa” verdadeiramente enriquecidos, tornados mais justos e mais capazes de caminhar na senda do Senhor.

A primeira leitura e o Salmo responsorial insistem sobre o tema da oração, sublinhando que essa é tão mais poderosa junto ao coração de Deus, quanto mais aquele que reza é necessitado e está em aflição. “A oração do pobre atravessa as nuvens”, afirma o Siracida (35, 21): e o salmista acrescenta: “O Senhor está próximo daquele que tem o coração dilacerado, ele salva os espíritos sofredores (34, 19). O pensamento se dirige a tantos irmãos e irmãs que vivem na região do Oriente Médio e que se encontram em situações difíceis, às vezes muito pesadas, seja pela carência material, seja pelo desânimo, pelo estado de tensão e muitas vezes pelo medo. A Palavra de Deus hoje nos oferece também uma luz de esperança consoladora, quando apresenta a oração, personificada, que “não desiste até que o Altíssimo tenha intervido e satisfeito os justos e restabelecido a equidade” (Sir 35, 21 – 22). O liame entre a oração e a justiça nos faz pensar em tantas situações no mundo, especialmente no Oriente Médio. O grito do pobre e do oprimido encontra eco imediato em Deus, que quer intervir para abrir uma saída, para restituir um futuro de liberdade, um horizonte de esperança.

Esta fé no Deus próximo, que liberta seus amigos, é a fé que testemunha o Apóstolo Paulo na epístola de hoje, trata-se da Segunda Carta a Timóteo. Vendo aproximar-se o fim de sua vida terrena, Paulo faz um balanço: “Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé” (2 Tim 4, 7). Para cada um de nós, queridos irmãos no episcopado, isto é um modelo a ser imitado: nos conceda a Bondade divina de fazer nosso um tal balanço conclusivo!

“O Senhor – prossegue São Paulo – me é próximo e me deu força, para que eu pudesse levar a bom termo o anúncio do Evangelho e todos os povos o escutassem” (2 Tm 4, 16 – 17). É uma palavra que ressoa com especial força neste domingo em que celebramos o Dia Mundial das Missões! Comunhão com Jesus crucificado e ressuscitado, testemunho de seu amor. A experiência do Apostolado é paradigmática para cada cristão, especialmente para nós pastores. Partilhamos um momento forte de comunhão eclesial. Agora nos separamos para que cada um possa voltar à sua missão, mas saibamos que permanecemos unidos em seu amor.

A Assembléia sinodal que hoje se encerra teve sempre presente a imagem da primeira comunidade cristã, descrita nos Atos dos Apóstolos: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4, 32). É uma realidade experimentada nos dias passados, nos quais condividimos a alegria e as dores, as preocupações e as esperanças dos cristãos do Oriente Médio. Vivemos a unidade da Igreja na variedade das Igrejas presentes naquela Região. Guiados pelo Espírito Santo, nos tornamos “um só coração e uma só alma” na fé, na esperança e na caridade, sobretudo durante as Celebrações Eucarísticas, fonte e cume da comunhão eclesial, como também na Liturgia das Horas, celebrada cada manhã em um dos 7 ritos católicos do Oriente Médio. Valorizamos a riqueza litúrgica, espiritual e teológica da Igreja Oriental Católica, além daquela da Igreja Latina. Tratou-se de uma troca de dons preciosos, dos quais nos beneficiamos todos, os Padres Sinodais. É desejável que tais experiências positivas se repitam também nas respectivas comunidades do Oriente Médio, favorecendo a participação dos fiéis nas celebrações litúrgicas dos outros Ritos Católicos e portanto a abrir-se às dimensões da Igreja Universal.

A oração comum nos ajudou também a enfrentar os desafios da Igreja Católica no Oriente Médio. Um desses é a comunhão dentro de cada Igreja sui iuris, como também nas relações entre as várias Igrejas católicas de diferentes tradições. Como nos recordou o Evangelho de hoje (cf. Lc 18:9-14), precisamos de humildade para reconhecer nossas limitações, nossos erros e omissões, para poder verdadeiramente formar “um só coração e uma só alma”. Uma mais plena comunhão dentro da Igreja Católica favorece também o diálogo ecumênico com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais. A Igreja Católica reiterou também nesta Assembleia sinodal a sua profunda convicção de continuar tal diálogo, para que se realize completamente a oração do Senhor Jesus “para que todos sejam uma só coisa” (Jo 17,21).

Aos cristãos no Oriente Médio se podem aplicar as palavras do Senhor Jesus: “Não tenhais medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino” (Lucas 12:32). De fato, embora pouco numeroso, eles são portadores da Boa Nova do amor de Deus pelo homem, o amor que se revelou precisamente na Terra Santa, na pessoa de Jesus Cristo. Esta Palavra de salvação, fortalecida pela graça dos Sacramentos, ressoa com particular eficácia nos lugares onde, por divina Providência, foi escrita, e é a única palavra capaz de romper o ciclo vicioso da vingança, do ódio, da violência. De um coração purificado, em paz com Deus e com o próximo, podem nascer propósitos e iniciativas de paz em nível local, nacional e internacional. Nesse trabalho, a cuja realização é chamada toda a comunidade internacional, os cristãos, cidadãos com todos os direitos, podem e devem dar a sua contribuição com o espírito das bem-aventuranças, tornando-se construtores de paz e apóstolos de reconciliação para o benefício de toda a sociedade.

Perduram há muito tempo no Oriente Médio os conflitos, as guerras, a violência, o terrorismo. A paz que é dom de Deus, é também o resultado dos esforços dos homens de boa vontade, de instituições nacionais e internacionais, especialmente dos Estados mais envolvidos na busca da solução dos conflitos. Jamais se deve resignar-se à falta de paz. A paz é possível. A paz é urgente. A paz é a condição indispensável para uma vida digna da pessoa humana e da sociedade. Paz também é o melhor remédio para evitar a emigração do Oriente Médio. “Peçam a paz para Jerusalém” – nos diz o Salmo (122, ). Rezemos pela paz na Terra Santa. Rezemos pela paz no Oriente Médio, comprometendo-nos para que tal dom de Deus oferecido aos homens de boa vontade se espalhe pelo mundo inteiro.

Outra contribuição que os cristãos podem dar à sociedade é a promoção de uma verdadeira liberdade religiosa e de consciência, um dos direitos fundamentais da pessoa humana que cada Estado deveria sempre respeitar. Em muitos países do Oriente Médio, há liberdade de culto, enquanto o espaço da liberdade religiosa em muitos casos é muito limitado. Ampliar esse espaço de liberdade se torna uma exigência para assegurar todas as pessoas pertencentes às várias comunidades religiosas a verdadeira liberdade de viver e professar a sua fé. Esse argumento poderia se tornar objeto de diálogo entre cristãos e muçulmanos, diálogo cuja urgência e utilidade foi reafirmada pelos Padres sinodais.

Durante os trabalhos da Assembleia foi enfatizada com frequência a necessidade de repropor o Evangelho às pessoas que o conhecem pouco, ou que até mesmo se afastaram da Igreja. Com frequência foi evocada a urgente necessidade de uma nova evangelização também para o Oriente Médio. Trata-se de um tema muito comum, especialmente em países de antiga cristanização. Também a recente criação do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização responde a esta profunda exigência. Por isso, após ter consultado o episcopado do mundo inteiro, e após ter ouvido o Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, decidi dedicar a próxima Assembléia Geral Ordinária em 2012, ao seguinte tema: “Nova evangelizatio ad christianam fidem tradendam - “Nova evangelização para a transmissão da fé cristã”.

Queridos irmãos e irmãs do Oriente Médio! A experiência destes dias dê a vocês a certeza de que não estão sozinhos, que os acompanham sempre a Santa Sé e toda a Igreja, nascida em Jerusalém, e que se espalhou por todo o Oriente Médio e, depois, por todo o mundo. Confiamos a aplicação dos resultados da Assembleia Especial para o Oriente Médio, bem como a preparação da Assembleia Geral Ordinária, à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja e Rainha da Paz. Amém.

sábado, 16 de outubro de 2010

Ministro Geral OFM fala no Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio

Intervenção do Ministro Geral OFM no Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio

No dia 12 de outubro, estando presente o Santo Padre, o Ministro Geral, Fr. José Rodriguez Carballo, OFM, participante do Sínodo para o Oriente Médio como representante dos Superiores Gerais, fez a seguinte intervenção no salão sinodal...

Comunhão e Testemunho: o diálogo não tem alternativa

Santidade, Eminências, Beatitudes, Excelências, Irmãos e Irmãs:
Na minha intervenção farei menção ao tema central do Sínodo: Comunhão e testemunho, e a diversos números do Instrumentum Laboris do Sínodo.

“Surge do Ocidente e chega até o Oriente” [1], assim se expressa um antigo Ofício litúrgico
escrito em italiano e grego em honra a São Francisco de Assis. O mundo cristão e o mundo
islâmico estavam profundamente em oposição. No contexto da cruzada, São Francisco parte
para o Oriente. Não vai contra ninguém (expressão usada para conseguir voluntários) para as cruzadas, senão em meio a, entre, como ele mesmo diz em sua Regra (1Rg 16, 5). Não vai com as armas, nem movido pelo afã de conquista, senão com a firme vontade de encontrar-se com o outro, o diferente e, naquele contexto, com o inimigo. Antes do encontro com o Sultão, Malik AL Kamil, o Pobrezinho havia tentado persuadir os cristãos a não combaterem, predizendo a derrota. Tudo foi em vão. Ninguém o escuta. Francisco sai do acampamento cruzado e se dirige a Damietta. Era o ano de 1218. Ali tem lugar o encontro. É o encontro entre dois crentes. As barreiras caíram e os preconceitos também. Em seu lugar, levanta-se a ponte do diálogo e do respeito. E o que não foi conseguido com as armas, consegue-se com o testemunho humilde do cristão Francisco, pois como tal se apresenta.

Desde então, nós, os “frades da corda”, como são conhecidos no Oriente Médio os
franciscanos, poderão permanecer naquela terra, sem interrupção, por um plano da
Providência e por vontade da Sé Apostólica; não sem perseguições, como o Senhor mesmo anuncia e como o demonstram tantos mártires através dos séculos, construindo pontes
de encontro e derrubando os muros dos pré-juízos e dos fundamentalismos. Fazemo-lo
com os irmãos de outras confissões cristãs, entre outras formas, compartilhando o mesmo
teto e os mesmos lugares de culto, no Santo Sepulcro e em Belém. Fazemo-lo com os
seguidores do Islã, particularmente em nossas escolas, em muitas das quais a maioria
dos alunos são muçulmanos, e em numerosas obras sociais, onde acolhemos a todos, sem
distinção de credo. Em ambos os casos é o “diálogo da vida”, que não é sempre fácil, mas ao
longe, sempre o mais frutuoso. Fazemo-lo com os judeus, especialmente através do
estudo das Sagradas Escrituras na Faculdade de Ciências Bíblicas e Arqueologia de
Jerusalém [2]. É o diálogo bíblico e teológico, tão importante naquela região e
particularmente em Jerusalém. Ao mesmo tempo, custodiamos os lugares santos em nome da
Igreja Católica e cuidamos das “pedras vivas”, dos fiéis a nós confiados.

Esta é a vocação dos filhos do Pobrezinho, um dos carismas de nossa Ordem (João Paulo
II); esta é a vocação da Igreja, particularmente na terra regada com o sangue do
Redentor. O diálogo, feito encontro, não tem alternativa, tem alternativas nas relações
com outras comunidades cristãs: diálogo ecumênico [3], com as quais o diálogo se baseia na
escuta e no respeito recíproco; nas relações com o Judaísmo e com o Islã: o diálogo
inter-religioso [4], que passa pelo reconhecimento dos bens espirituais e morais que
existem nas ditas religiões (cf. NA 2), mas, segundo a metodologia  proposta por São Francisco
em sua Regra, este diálogo também passa necessariamente para a confissão da própria fé, sem
sincretismos nem relativismos, com muita humildade e sem promover disputas, confessando com a vida em todo momento a fé cristã e, quando agradar ao Senhor, também com a palavra (cf. 1 Rg 16, 6-7). O diálogo tampouco tem alternativas em relação com todo processo de paz para a região. Neste caso, os cristãos, situando-se super partes [5], buscando sempre o respeito da justiça e dos direitos de todos, particularmente das minorias. Não podemos ser
ignorados neste processo, mesmo que sejamos minoria, nem tampouco podemos calar-nos,
mesmo quando temos a impressão de que ninguém nos escuta.

Frente ao triste espetáculo (cf. Lc 23, 48) dos conflitos que se dão na Terra Santa, frequentemente se prefere uma leitura “leiga” que fala do direito dos povos que habitam aquela terra, de autodeterminação, de democracia..., evitando deste modo uma leitura mais profunda dos conflitos. Se é certo que não terá paz entre as nações sem paz entre as religiões, e não terá paz entre as regiões sem o diálogo entre as religiões, os cristãos,
particularmente na Terra Santa, somos chamados a mostrar ao mundo que as religiões, vividas na autenticidade, estão a serviço do entendimento entre os diferentes, a serviço da paz. Neste sentido, a reconciliação na região do Oriente Médio passa pelo encontro
entre as religiões, e para nós cristãos passa, em primeiro lugar, pelo encontro/diálogo entre as distintas confissões cristãs, enquanto que entre os católicos passa por uma verdadeira e profunda comunhão que vai mais além das diferenças culturais e rituais das diferentes igrejas; diferenças que, longe de ser um atentado contra a unidade, são uma manifestação da beleza da igreja católica, que vive a plena comunhão de fé, respeitando a pluralidade de expressões. Contra a idéia amplamente difundida de que as religiões estão
na base dos conflitos, particularmente nós cristãos, seguindo fielmente as orientações que nos foi dada no Concílio Vaticano II em relação ao diálogo com outras religiões, somos chamados a mostrar que a verdadeira experiência religiosa é forjar corações reconciliados e reconciliadores. De minha parte, estou convencido que a metodologia mostrada por São Francisco é plenamente atual [6].

Se isto é válido para todo o Oriente Médio, é de modo particular para a Terra Santa e para
Jerusalém. Esta, de cidade conflitiva por excelência, deve chegar a ser a “cidade da aliança”
entre os povos e as religiões, o coração do diálogo inter-religioso, e não somente por ser um
microcosmos do universo e por sua situação geográfica – na Ásia, no cruzamento do
Mediterrâneo, da África e do Ocidente –, mas também por ser o umbigo teológico do mundo e por seu grande significado teológico para o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Isto que parece um sonho poderá ser uma bela e messiânica realidade se recordamos que a vocação que a Cidade Santa tem na Bíblia é a de ser mãe de todos os povos, não a amante de um só
povo [7]. Em todo caso, o diálogo, sem renunciar à própria identidade, tende a alargar
o próprio horizonte até o ponto de compreender o horizonte do outro.
“Paz e justiça se abraçarão”, canta o Salmo 85. A reconciliação será possível somente se cada um dos pretendentes perdoa e abandona a pretensão de ser o único amante. Este é o
preço a pagar pela paz. “Entre ti e mim não haja disputas”, lemos na Sagrada Escritura.
Por que os filhos de Abraão esquecem a capacidade de seus pais? A paz e a vida prometidas
a Jerusalém batem à porta de judeus, cristãos e muçulmanos. É o momento de acolher ao
Deus paz, ao Adonai Shalom.

“Bem-aventurados os construtores da paz” (Mt 5,9). Para nós cristãos,
particularmente aos que habitam a Terra Santa e, mais concretamente, em Jerusalém, é o
momento de trabalhar incansavelmente pela paz, sendo pontes entre o mundo hebraico e
o mundo muçulmano. Mas esta vocação, por si só muito difícil, somente será possível se nós cristãos soubermos manter nossa própria identidade, e na medida em que trabalhemos para
reencontrar a unidade perdida de todos os seguidores do Senhor Jesus: Sem comunhão não há
Testemunho (Bento XVI).

Uma última consideração. Pelo que conheço do Oriente Médio, estou plenamente
convencido que é urgente ajudar os cristãos a reforçar sua identidade de discípulos e
missionários e, portanto, faz-se necessário uma nova evangelização que ponha o Evangelho
no centro da vida de quantos creem em Cristo. Neste contexto, faço quatro propostas:

1) Elabore-se um catecismo único para todos os católicos do Oriente Médio.

2) Leve-se a termo iniciativas concretas para uma formação adequada às exigências da nova
evangelização e da situação particular do Oriente Médio, para todos os agentes de
pastoral: sacerdotes, religiosos e leigos.

3) Em continuidade com o ano paulino, celebre-se um ano dedicado a São João em todas as igrejas do Oriente Médio, possivelmente com os irmãos das igrejas não católicas.

4) Apóie-se os estudos bíblicos, especialmente através dos três Institutos Bíblicos já
presentes em Jerusalém: A Faculdade de Ciências Bíblicas e de Arqueologia, dos Franciscanos,
L’Ecole Biblique, dos Dominicanos, e o Instituto Bíblico, dos Jesuítas.

Desejo, concluindo, que diante da constante diminuição dos cristãos na Terra Santa, este
Sínodo proclame uma palavra de alento às comunidades cristãs e particularmente
católicas naquelas terras, de modo que não se sintam sós, graças à solidariedade em favor
da Igreja mãe de Jerusalém. Seja o Sínodo uma ocasião propícia para apoiar com força
o diálogo ecumênico e inter-religioso. Do Sínodo, enfim, saia uma intensa e
confiante oração pela paz no Oriente Médio e em Jerusalém, assim como um convocação
urgente a quantos têm em suas mãos o destino dos povos do Oriente Médio e,
particularmente, da Terra Santa, para que escutem o grito de tantos homens e mulheres de
Boa vontade que clamam pela paz e respeito pela justiça.

________________________________________

[1] Rico Esposo da Pobreza. Ofício litúrgico ítalo-greco para Francisco de Assis, Ed. Crítica,
Tradução e comentários a cargo de Anna Gaspari. Ed. Antonianum, Roma 1010, p. 57.

[2] A Faculdade de Ciências Bíblicas e de Arqueologia recebe, desde os anos 70 estudantes de
Igrejas orientais não somente católicas, como também ortodoxas.

[3] Instrumentum Laboris cf. n. 76-84

[4] Instrumentum laboris cf. n. 85-99

[5] Penso que neste sentido a Custódia da Terra Santa, ao ser uma entidade internacional
desde suas origens até hoje, pode prestar um grande serviço de ponte entre o povo
Palestino e o povo israelense.

[6] O Santo Padre, Bento XVI, durante sua peregrinação à Terra Santa, no dia 13 de maio de
2009, no campo dos refugiados de Ainda, Belém, recordou o caminho da “não
violência”, seguida por São Francisco como o caminho para superar o terrorismo e o
fundamentalisno. O Santo Padre falava tendo a seus ombros o muro que separa Belém e
Jerusalém.

[7] O Santo Padre, Bento XVI,sempre na peregrinação à Terra Santa, disse que
Jerusalém “é chamada mãe de todos os homens. Uma mãe pode ter muitos filhos, que
Ela deve reunir e não separar”.
Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Uma nova aurora deve surgir no Oriente Médio: este é o apelo do Sínodo

(12/10/2010) Uma nova aurora para o Médio Oriente: foram os votos expressos pela assembleia especial do Sínodo dos bispos para aquela região. Nesta terça feira, na presença do Papa, os padres sinodais chamaram a atenção também sobre o Iraque pedindo o fim dos conflitos. Foram já eleitos os membros da comissão encarregada de redigir a mensagem final. Segunda feira pela tarde foi dado espaço aos relatórios continentais dedicados às relações entre o Médio Oriente e os outros continentes.

Trabalhar todos juntos para preparar uma nova aurora para o Médio Oriente. Este é o pedido do Sínodo lançando um apelo para que terminem os conflitos, as correntes agressivas do Islã e haja respeito pela liberdade religiosa. Em primeiro plano o Iraque: sem diálogo não haverá paz e estabilidade, dizem os bispos, e as vozes devem unir-se na denúncia do grande negócio econômico do comércio das armas. Os cristãos querem viver em paz e liberdade, em vez de sobreviver, e o êxodo, definido mortal, é um desafio que deve ser enfrentado.

Embora não esteja presente no Sínodo como país do Médio Oriente, o Afeganistão, contudo, foi recordado na solidariedade pelos padres sinodais, por causa das tribulações vividas pela população local.
Foi referida a responsabilidade das potencias ocidentais, em particular daquelas que cometeram erros históricos em relação ao Oriente Médio, para que o grito de justiça e de paz na região não permaneça sem ser ouvido. O sínodo reafirma também a colaboração entre as igrejas orientais e aquelas do Magrebe, e define imperativa a importância dos mass media; de fato, graças a eles podem difundir na população as noções sobre cidadania, igualdade, aceitação da diversidade, evitando a manipulação das massas e a deriva para o extremismo.

A aula sinodal enfrentou depois o diálogo entre cristãos e muçulmanos, visto como um enriquecimento recíproco: do Islã os cristãos podem aprender a ser mais praticantes, enquanto que a sua proximidade ao Evangelho faz com que os muçulmanos possam ter uma leitura critica do Corão. Nesta óptica os padres sinodais lamentam iniciativas provocatórias em relação ao Islã, enquanto que encorajam as atividades dos escoteiros, em que os rapazes se encontram lado a lado sem distinção de credo.

Depois os dados confortantes sobre a educação: no Médio Oriente, a Igreja católica cuida de milhares de instituições escolares com cerca de 600 mil alunos, quatro universidades, oito institutos superiores eclesiásticos e pelo menos 10 seminários de vários ritos. Muito apreciados, todos estes centros estão abertos também aos mais pobres. Assinalada também a importância de um laicato maduro na fé e consciente na vocação, assim como dos movimentos eclesiais e das novas comunidades, que não representam uma ameaça, mas um apoio precioso e indispensável para revitalizar a evangelização.

Os trabalhos desta segunda feira à tarde estiveram os cinco relatórios continentais dedicados às relações entre o Oriente Médio e o resto do mundo. Denominador comum foi a questão das migrações que levam os cristãos do Oriente Médio a todas as partes do mundo. Reafirmado portanto o apoio, também através da Caritas Internacional, àqueles que vivem na diáspora, assim como a necessidade de comunhão e a importância da herança cultural cristã do Oriente Médio, a qual, sobretudo na Europa, desperta a consciência dos fiéis.

Foi predita também a justa formação dos leigos e dos presbíteros, em vista de uma ação missionária partilhada. Foi ainda referida a reflexão sobre a liturgia, que se estiver enraizada na tradição, ajuda a preservar a vivacidade da fé, e a renovação da atividade missionária, pois que a Igreja do Oriente Médio não deve ter medo nem vergonha de pregar o Evangelho. Finalmente foi recordada a importância da difusão da cultura bíblica, para que a Palavra de Deus seja o fundamento da educação, do ensino e do diálogo para construir uma civilização pacifica.

Dados recentes sobre o número de cristãos no Oriente Médio

Entre os principais temas discutidos no Vaticano, na abertura do Sínodo dos Bispos da Igreja Católica no Oriente Médio, destaca-se a normalização do processo de paz e a posição contra o extremismo.
A agência de notícias Reuters, a propósito do início dos trabalhos sinodais, publicou dados sobre o número de cristãos que vivem no Oriente Médio:
•TURQUIA: 85 mil cristãos (cerca de 0,2% da população), dos quais 20 mil são católicos das tradições  armênia, síria e caldeia

•LÍBANO: 1,5 milhões de cristãos (cerca de 35% da população), dos quais cerca de dois terços são católicos maronitas, melquitas, armênios e sírios e armênios;

•ISRAEL: 150 mil cristãos (cerca de 2% da população), dos quais 85 mil são católicos romanos;

•TERRITÓRIOS PALESTINOS: 50 mil cristãos (cerca de 0,8% da população), dos quais 17 mil são católicos;

•EGITO: 8 milhões de cristãos (cerca de 10% da população), dos quais 250 mil são católicos;
•JORDÂNIA: 150 mil cristãos (2,4% da população), a maioria ortodoxa, mas há pequenos grupos de católicos, cristãos da tradição armênia e os protestantes

•SÍRIA: 850 mil cristãos (cerca de 4,5% da população), a maioria dos quais são ortodoxos, mas há 400 mil católicos das tradições síria, melquitas, maronitas, armênios e caldeus;

•IRAQUE: 850 mil cristãos (cerca de 3% da população), dos quais 400 mil são católicos, a maioria das tradições síria e caldeia.  Muitos cristãos fugiram do país ou foram deslocados após a invasão dos EUA em 2003;

•IRÃ: 135 mil cristãos (cerca de 0,3% da população), dos quais 20 mil são católicos, principalmente caldeus.

A fonte desta informação para Reuters foram dados de L’Oeuvre d’Orient, CIA World Fact Book, Departamento de Estado dos EUA.

Bento XVI abre o Sínodo dos Bispos para Igreja no Oriente Médio com apelo à paz e à justiça

Na missa abertura do Sínodo para o Médio Oriente, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, neste domingo, 10, o papa Bento XVI pediu um esforço comum das religiões e da comunidade internacional em favor da paz no Médio Oriente, recusando “qualquer expressão de violência”.

“Todos são chamados a dar o seu próprio contributo: a comunidade internacional, apoiando um caminho fiável, leal e construtivo em direcção à paz; as religiões mais presentes na região, promovendo os valores espirituais e culturais que unem os homens e excluem qualquer expressão de violência”, disse o Papa.

O Sínodo é uma assembleia consultiva de bispos que representam o episcopado católico, convocados para ajudar o Papa no governo da Igreja.

A Reunião

A Assembleia deve reunir 185 participantes até o dia 24 deste mes discutindo o tema “A Igreja Catolica no Oriente Medio: comunhao e testemunho. ‘A multidao dos fieis tinham um so coraçao e uma so alma’” (At 4,32). Do Brasil, participa o arcebispo de Aparecida (SP) e presidente do Conselho Episcopal Latino-americando, dom Raymundo Damasceno Assis.

Lembrando “a delicada e muitas vezes dramática situação social e política de alguns países”, o papa defendeu a necessidade de “favorecer as condições de paz e de justiça, indispensáveis para um desenvolvimento harmoniosos de todos os habitantes da região”.

A unidade das Igrejas católicas árabes também esteve no centro da intervenção do papa que uma maior “comunhão da Igreja Católica no Médio Oriente”.

“É a terra de Abraão, de Isaac e de Jacob; a terra do Êxodo e do regresso do exílio; a terra do Templo e dos Profetas; a terra em que o Filho Unigénito nasceu de Maria, ali viveu morreu e ressuscitou; é o berço da Igreja, constituída para levar o Evangelho de Cristo até aos confins do mundo”, disse.

Bento XVI destacou a importância de promover a unidade “no interior de cada Igreja, entre todos os seus membros” e nas relações com as outras Igrejas.

“Não obstante as dificuldades, os cristãos da Terra Santa são chamados a reavivar a consciência de serem pedras vivas da Igreja no Médio Oriente, junto dos Lugares santos da nossa salvação”, acentuou.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Novo Centro de Espiritualidade dos Frades Capuchinhos em Jerusalém

Os frades capuchinhos abriram um novo centro de espiritualidade em Jerusalém, intitulado “Eu sou a luz do mundo”, informa a cúria geral da congregação. O núncio apostólico no local, Antonio Franco, o patriarca latino de Jerusalém, Dom Fouad Twal, o patriarca emérito, Michel Sabbah, o custódio da Terra Santa, Pierbattista Pizaballa, o ministro geral dos capuchinhos, Mauro Jöhri (foto), e o bispo da diocese italiana de Bérgamo, Dom Francis Beschi, participaram da inauguração, no dia 28 de setembro.


A nova casa não é um centro de peregrinação, mas um local destinado aos frades capuchinhos que estudam em institutos bíblicos ou participam de outros cursos em Jerusalém. Serve ainda para grupos ou pessoas em estadia de formação espiritual.

No jardim da casa plantaram-se dez oliveiras, como reconhecimento e gratidão a todos os que trabalharam com dedicação, compromisso e paixão para criar o novo centro.

A história da casa remonta a 1930, quando os frades capuchinhos, animados pelo convite do então patriarca arcebispo Lugi Barlassina, decidiram construir um convento na área judaica de Jerusalém.

O projeto não fora então realizado porque os capuchinhos tiveram de abandonar Jerusalém durante a Segunda Guerra Mundial. O Estado utilizou posteriormente parte dessa propriedade para um hospital psiquiátrico.
Contudo, o velho projeto reviveu-se nos anos noventa e pode-se completar graças à significativa colaboração de um arquiteto de Bérgamo na renovação do edifício, assim como aos incansáveis esforços dos frades capuchinhos e ao apoio de inúmeros benfeitores

Reconciliação na Terra Santa: sinal de nova era

 "A reconciliação nesta região, na segurança de Israel, no desarmamento dos violentos e dos terroristas, na pátria para os palestinos, é difícil, mas será um sinal profético de uma nova era para o mundo." Assim afirmou Andrea Riccardi, no último domingo, no XXV Encontro Internacional pela Paz que aconteceu em Barcelona de 3 a 5 de outubro, com o tema "Conviver num tempo de crise. Família dos povos, Família de Deus".

Riccardi acrescentou que "temos que alcançar uma solução compartilhada, sem esconder as dificuldades". A Comunidade de Sant'Egidio e o arcebispado de Barcelona organizaram este encontro que renova o espírito do Dia de Oração de Assis, convocado por João Paulo II no ano de 1986.

Os debates e orações procuram fomentar a paz em todos os lugares do mundo, ainda que a presente edição dedique uma atenção especial, entre outras questões, ao Oriente Médio, informou a Comunidade de Sant'Egidio. Já no ato inaugural, participaram o ministro de Relações Diplomáticas e da Diáspora de Israel, Yuli Yoel Edelstein, e o de Assuntos Religiosos da Autoridade Nacional Palestina, Mahamoud Al-Habash.

O ministro palestino expressou seu desejo de que "Israel acolha com as mãos estendidas" porque "o caminho para a paz é claro e agora devemos aplicar o método do diálogo". Ambos os políticos mostraram seus desejos de alcançar a paz, diante de mais de 350 autoridades políticas e religiosas, entre elas o presidente de Montenegro, Filip Vujanovic, o rabino chefe de Israel, Yona Metzger, e o ministro egípcio para Assuntos Religiosos, Zakzouk.

O diálogo entre os dois ministros palestinos e israelenses continuou na segunda-feira, num dos diversos colóquios que o encontro está acolhendo, não apenas em Barcelona, mas também em outras cidades próximas, entre elas Tarragona e Terrassa.


Ambos condenaram a violência contra os livros sagrados e contra as sinagogas e mesquitas, lamentando o ataque a uma mesquita na Cisjordânia no domingo.

Para o ministro palestino, a relação com Gaza é um problema exclusivamente interno dos palestinos, que "será resolvido quando forem definidos os limites do Estado palestino" e declarou que será possível um diálogo entre Hamas e Fatah, como aconteceu no seio de toda comunidade política.
O ministro israelense elogiou o diálogo em Barcelona pela Comunidade de Sant'Egidio e afirmou que, se quiser avançar, não deve ter medo ao falar dos problemas, dos refugiados, de Jerusalém.

Ortodoxos

O encontro começou no domingo pela manhã, com uma Missa na Igreja de Santa Maria do Mar de Barcelona, presidida pelo cardeal Sistach. Pela primeira vez na Espanha, a homilia foi pronunciada por um metropolitano russo ortodoxo, exarca da Bielo-Rússia, Filarete, que faz parte de diversas delegações de patriarcado de Moscou, junto ao responsável pelas Relações Exteriores desse patriarcado, o metropolitano Hilarion, e outros metropolitanos.

Durante a Missa, foi lida a mensagem que o Papa enviou ao encontro por meio do secretário do Estado Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone. Esta cúpula mundial de religiões e culturas tem uma grande relação com a visita que o Papa fará a Barcelona dentro de um mês, segundo o arcebispo da arquidiocese, Cardeal Lluís Martíenez Sistach.

"Nestes dias, reúne-se aqui uma família de povos, que é a família de Deus, e é algo muito querido por Bento XVI, como o diálogo entre as religiões", declarou na sexta-feira, na coletiva de imprensa da apresentação do Encontro Internacional pela Paz.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Francisco, o homem do diálogo


Muito me alegra o convite feito pela OFS (Ordem Franciscana Secular), com a autorização dos padres diocesanos desta querida paróquia de Nossa Senhora da Paz, Ipanema. O motivo do júbilo é poder hoje celebrar São Francisco de Assis nesta paróquia, que foi dos Frades Menores, com muita saudade, até 1992.

Poderíamos falar por duas ou três horas contínuas do nosso Santo Fundador, quem sabe abordando outros aspectos de sua vida e experiência encarnada do Evangelho. Contudo, devido à exigüidade do tempo, apraz-me falar de Francisco, como homem do diálogo.

Logo depois de sua conversão, Francisco de Assis resolveu ir a Roma para pedir a aprovação da sua forma de vida. Poderia muito bem ter se encaixado numa estrutura de sua época, estável ou confinada nos limites de uma diocese, como por exemplo, a estrutura dos beneditinos. Porém, chamado por Deus, Francisco quis ir além das fronteiras de Assis. Depois de aprovada a Regra pela Igreja, Francisco decide ir até o Oriente Médio. Na época das Cruzadas, aporta no Egito em 1219 e procura o Sultão Melek-el-Kamel para um diálogo com ele. Trava-se ali um diálogo diferente, ou seja, duas grandes religiões começam a se entender, não pela destruição da espada, nem pela destruição causada pela espada cortante de discursos racionais, na tentativa de convencer o outro abraçar a minha religião. Este diálogo foi o marco zero, que abriu caminho para a Igreja católica. A partir deste momento, os franciscanos se instalaram no Egito e também na Palestina (Israel) e lá vivem ininterruptamente até os dias de hoje. Sempre que surge uma disputa entre as religiões, os franciscanos são chamados para apaziguar os ânimos, pela via da paz. Assim, abre-se o leque de compreensão, de que a religião é boa, desde que aplicada para o bem da humanidade, onde haja tolerância e mútuo respeito pelo sagrado que é cultuado em cada tradição, seja ela cristã católica, cristã ortodoxa, cristã protestante, cristã pentecostal, judaica, muçulmana ou qualquer outra tradição religiosa. Exemplo disso podemos constatar nos dias atuais. Se a Igreja católica quiser organizar um evento ecumênico ou inter-religioso, não convoca as religiões para Roma e sim para Assis, porque lá os franciscanos lhes abrem as portas ao diálogo e à tolerância religiosa.

Os seguidores da espiritualidade franciscana eram, no início, apenas católicos, formando assim a Ordem dos Frades Menores, a Ordem das Clarissas, Ordem Terceira (Ordem Franciscana Secular) e mais tarde, a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, a Ordem dos Frades Menores Conventuais. Contudo, outros também quiseram beber desta fonte inspiradora. Hoje, temos irmãos e irmãs franciscanos católicos, franciscanos ortodoxos, franciscanos luteranos, franciscanos anglicanos e porque não falar, de judeus e muçulmanos simpatizantes da espiritualidade franciscana, que são capazes de se sentarem juntos para refletir e beber desta fonte.

Se Francisco é o homem do diálogo, o que podemos aprender dele? 
1) Aprender a reconhecer dentro de mim o lobo que carrego, amansando este lobo para que ele se torne mais cordeiro e que dialogue com o próximo, pela via da paz, da justiça e da solidariedade;
2) Aprender dele que podemos dialogar com todas as culturas, porque em cada uma, apesar das diferenças, Deus é o mesmo;
3) Aprender a respeitar melhor o outro, como extensão de mim mesmo, como templo de Deus, independente da religião que ele pratique;
4) Aprender a dialogar com a natureza, no respeito das coisas criadas, que devem ser ajardinadas, como expressão da beleza do Criador e poder cantar com Francisco o Cântico das Criaturas;
5)    Aprender que é possível permanecer dentro da Igreja católica, não obstante as diferenças que existem em seus vários movimentos - muitas vezes ortodoxos e fanáticos - na linha da inclusão eclesial.
Frei Ivo Müller, OFM
Comissário