terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sínodo: Custódio da Terra Santa faz balanço final

Para um balanço sobre os trabalhos do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio, a Rádio Vaticano ouviu o Frei Pierbattista Pizzaballa, o Custódio da Terra Santa:

R. - É um balanço positivo. Como eu sempre disse, não há resultados operativos, mas foi uma experiência maravilhosa de Igreja encontrar todas as realidades eclesiais do Oriente Médio reunidas aqui em Roma, com Pedro e numa troca de opiniões, de idéias e experiências que enriqueceu a todos. Talvez não tenha resolvido todos os problemas, mas nos deu uma visão mais lúcida da situação e também perspectivas.

P. - Vocês franciscanos são os custódios dos lugares santos ligados à presença de Jesus na Terra Santa, lugares caros a toda a cristandade e esta condição lhes dá um pouco “o termômetro da comunhão entre as igrejas, entre os cristãos. Quanto trabalho deve ser feito ainda, qual contribuição o senhor acredita que este Sínodo deu?
R. – Certamente, há ainda muito o que fazer. É verdade que foi feito um grande caminho, que muitas Igrejas ortodoxas se aproximaram, mas permanece o fato das suspeitas, dos preconceitos e dos medos que ainda são muito visíveis e tangíveis. Nos lugares Santos e na Terra Santa isso se percebe muito bem. O Sínodo chamou a atenção para muitas questões e foram feitos pedidos precisos e específicos às Igrejas irmãs ortodoxas; esperamos que isso seja o início de um novo modo de se falar, mais franco e claro.

P. – O senhor acha que este Sínodo tenha incentivou a dimensão do testemunho?
R. - Sim, porque isso significa concretamente viver como cristãos na nossa realidade, que é uma realidade de minoria em relação à maioria muçulmana e judaica em Israel. Como viver esse testemunho? Primeiro, numa maior comunhão entre as Igrejas católicas, em maior harmonia com as Igrejas ortodoxas e, especialmente, sendo capazez de se consumar, investir e participar na vida pública do país de forma positiva e construtiva.

P. – No centro da atenção dos Padres sinodais, nestes dias, esteve também a necessidade de aumentar o diálogo com as outras duas grandes religiões monoteístas. Qual a contribuição desse Sínodo?
R. - Este Sínodo discutiu longamente sobre a relação, sobretudo, com o Islamismo; um pouco menos, por razões óbvias, com o Judaísmo. Em alguns países, essa experiência é dramática, enquanto em outros é mais positiva e essas duas realidade foram discutidas no Sínodo. Mas o que é comum a todos - e é um pedido muito forte - é a plena cidadania, plenos direitos, o desejo de colaborar e de construir juntos o futuro, o projeto e a visão da sociedade do Oriente Médio. Eu acredito que este Sínodo será lembrado como um momento muito claro, muito forte e muito franco; não houve impulsos positivos acríticos e nem mesmo houve um desejo de criticar, só por criticar. Foi um Sínodo muito realista. Acredito que o diálogo, assim, se tornará mais concreto.

P. - Apesar do caráter pastoral do Sínodo, inevitavelmente discutiu-se sobre o conflito israelense-palestino e o impacto que o mesmo tem na vida dos cristãos na Terra Santa. Hoje a resolução deste conflito vive um período de impasse. Qual é a contribuição dos cristãos?
R. - Os cristãos não poderão dar uma contribuição operativa, concreta, visível e tangível, hoje, imediatamente. Os cristãos podem, através das relações internacionais, manter viva a atenção da comunidade internacional para o problema, que é um problema real. Podem testemunhar, com a vida e no território, a capacidade de não desistir, de olhar para frente com uma atitude positiva.

P. - Este Sínodo pode ser visto como um novo ponto de partida?
R. – Absolutamente sim. Não é o fim mas o início de uma nova experiência. Certamente teremos uma nova forma de sentir-se Igreja, de maior comunhão. Uma das resoluções, um dos desejos mais forte de todos os Padres sinodais é continuar a encontrarem-se para poder conversar. Esse desejo já existia e agora é mair forte.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Papa encerra Sínodo convidando à paz e à comunhão

Vaticano - Nunca podemos nos resignar diante da falta de paz, apesar das dificuldades: esta foi a mensagem de Bento XVI durante a Missa solene de encerramento da Assembleia do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio, celebrada no Altar da Confissão, com 177 padres sinodais e 69 colaboradores concelebrantes.

Durante a homilia, o Pontífice quis lançar uma mensagem de apoio aos cristãos do Oriente Médio, "que se encontram em situações difíceis, às vezes muito duras, tanto pelos problemas materiais como pelo desânimo, pelo estado de tensão e pelo medo".

No entanto, Bento XVI sublinhou a importância de que os cristãos dessa região assumam um papel protagonista na busca da paz, superando o medo e as dificuldades.

Estes cristãos, sublinhou, "ainda que poucos em número, são portadores da Boa Nova do amor de Deus pelo homem, amor que se revelou precisamente na Terra Santa, na pessoa de Jesus Cristo".

O Papa também destacou a importância da experiência de comunhão vivida durante as duas semanas de duração do Sínodo.

Em especial, referiu-se às Celebrações Eucarísticas realizadas cada dia, "assim como na Liturgia das Horas, realizada cada manhã em um dos 7 ritos católicos do Oriente Médio". Isso serviu, afirmou, para valorizar "a riqueza litúrgica, espiritual e teológica das Igrejas Orientais Católicas, além da Igreja Latina".

Neste sentido, expressou seu desejo de que "esta experiência positiva se repita também nas respectivas comunidades do Oriente Médio, favorecendo a participação dos fiéis nas celebrações litúrgicas dos demais ritos católicos e, portanto, a abertura à dimensão da Igreja universal".

Em sua homilia, o Pontífice também anunciou a convocação da próxima Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em 2012, sobre o tema "Nova evangelizatio ad christianam fidem tradendam - A nova evangelização para a transmissão da fé cristã". "Durante os trabalhos da Assembleia - afirmou o Papa - se sublinhou frequentemente a necessidade de voltar a propor o Evangelho às pessoas que o conhecem pouco ou que inclusive se afastaram da Igreja."

"Muitas vezes - prosseguiu - se evocou a urgente necessidade de uma evangelização também para o Oriente Médio. Trata-se de um tema muito difundido, sobretudo nos países de antiga cristianização."

E acrescentou: "Também a recente criação do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização responde a esta profunda exigência".
O Papa encerrou sua homilia desejando "que a experiência destes dias vos garanta que não estais sozinhos jamais, que vos acompanham sempre a Santa Sé e toda a Igreja, a qual, nascida em Jerusalém, estendeu-se pelo Oriente Médio e depois pelo mundo inteiro".


Íntegra da Homilia do Papa Bento 16

Veneráveis Irmãos,
Ilustres Senhores e Senhoras,
Caros irmãos e irmãs!

Após duas semanas da Celebração de abertura, estamos reunidos novamente no dia do Senhor, ao redor do Altar da Confissão da Basílica de São Pedro, para concluir a Assembléia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos. Em nossos corações existe uma profunda gratidão a Deus que nos deu esta experiência verdadeiramente extraordinária, não apenas para nós, mas para o bem da Igreja, do Povo de Deus que vive na região entre o Mediterrâneo e a Mesopotâmia. Como Bispo de Roma, desejo partilhar este reconhecimento com vocês, veneráveis Padres Sinodais: cardeais, patriarcas, arcebispos, bispos. Agradeço em particular ao Secretário Geral, aos quatro Presidentes Delegados, ao Relator Geral, ao Secretário Especial e a todos os colaboradores, que nestes dias trabalharam sem descanso.

Esta manhã deixamos a Sala do Sínodo e viemos “ao templo para rezar”: por isso, nos é adequada a parábola do fariseu e do publicano relatada por Jesus e registrada pelo evangelista São Lucas (cfr 18, 9 – 14). Também nós poderemos ser tentados, como o fariseu, de lembrar a Deus os nossos méritos, pensando no empenho destes dias.

Mas para subir ao céu, a oração deve brotar de um coração humilde, pobre. E portanto também nós, ao término deste evento eclesial, queremos antes de tudo agradecer a Deus, não pelos nossos méritos, mas pelo dom que Ele nos deu. Reconheçamo-nos pequenos e necessitados de salvação, de misericórdia; reconheçamos que tudo vem d’Ele e que somente com sua Graça se realizará o que nos disse o Espírito Santo. Apenas assim poderemos “voltar para casa” verdadeiramente enriquecidos, tornados mais justos e mais capazes de caminhar na senda do Senhor.

A primeira leitura e o Salmo responsorial insistem sobre o tema da oração, sublinhando que essa é tão mais poderosa junto ao coração de Deus, quanto mais aquele que reza é necessitado e está em aflição. “A oração do pobre atravessa as nuvens”, afirma o Siracida (35, 21): e o salmista acrescenta: “O Senhor está próximo daquele que tem o coração dilacerado, ele salva os espíritos sofredores (34, 19). O pensamento se dirige a tantos irmãos e irmãs que vivem na região do Oriente Médio e que se encontram em situações difíceis, às vezes muito pesadas, seja pela carência material, seja pelo desânimo, pelo estado de tensão e muitas vezes pelo medo. A Palavra de Deus hoje nos oferece também uma luz de esperança consoladora, quando apresenta a oração, personificada, que “não desiste até que o Altíssimo tenha intervido e satisfeito os justos e restabelecido a equidade” (Sir 35, 21 – 22). O liame entre a oração e a justiça nos faz pensar em tantas situações no mundo, especialmente no Oriente Médio. O grito do pobre e do oprimido encontra eco imediato em Deus, que quer intervir para abrir uma saída, para restituir um futuro de liberdade, um horizonte de esperança.

Esta fé no Deus próximo, que liberta seus amigos, é a fé que testemunha o Apóstolo Paulo na epístola de hoje, trata-se da Segunda Carta a Timóteo. Vendo aproximar-se o fim de sua vida terrena, Paulo faz um balanço: “Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé” (2 Tim 4, 7). Para cada um de nós, queridos irmãos no episcopado, isto é um modelo a ser imitado: nos conceda a Bondade divina de fazer nosso um tal balanço conclusivo!

“O Senhor – prossegue São Paulo – me é próximo e me deu força, para que eu pudesse levar a bom termo o anúncio do Evangelho e todos os povos o escutassem” (2 Tm 4, 16 – 17). É uma palavra que ressoa com especial força neste domingo em que celebramos o Dia Mundial das Missões! Comunhão com Jesus crucificado e ressuscitado, testemunho de seu amor. A experiência do Apostolado é paradigmática para cada cristão, especialmente para nós pastores. Partilhamos um momento forte de comunhão eclesial. Agora nos separamos para que cada um possa voltar à sua missão, mas saibamos que permanecemos unidos em seu amor.

A Assembléia sinodal que hoje se encerra teve sempre presente a imagem da primeira comunidade cristã, descrita nos Atos dos Apóstolos: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4, 32). É uma realidade experimentada nos dias passados, nos quais condividimos a alegria e as dores, as preocupações e as esperanças dos cristãos do Oriente Médio. Vivemos a unidade da Igreja na variedade das Igrejas presentes naquela Região. Guiados pelo Espírito Santo, nos tornamos “um só coração e uma só alma” na fé, na esperança e na caridade, sobretudo durante as Celebrações Eucarísticas, fonte e cume da comunhão eclesial, como também na Liturgia das Horas, celebrada cada manhã em um dos 7 ritos católicos do Oriente Médio. Valorizamos a riqueza litúrgica, espiritual e teológica da Igreja Oriental Católica, além daquela da Igreja Latina. Tratou-se de uma troca de dons preciosos, dos quais nos beneficiamos todos, os Padres Sinodais. É desejável que tais experiências positivas se repitam também nas respectivas comunidades do Oriente Médio, favorecendo a participação dos fiéis nas celebrações litúrgicas dos outros Ritos Católicos e portanto a abrir-se às dimensões da Igreja Universal.

A oração comum nos ajudou também a enfrentar os desafios da Igreja Católica no Oriente Médio. Um desses é a comunhão dentro de cada Igreja sui iuris, como também nas relações entre as várias Igrejas católicas de diferentes tradições. Como nos recordou o Evangelho de hoje (cf. Lc 18:9-14), precisamos de humildade para reconhecer nossas limitações, nossos erros e omissões, para poder verdadeiramente formar “um só coração e uma só alma”. Uma mais plena comunhão dentro da Igreja Católica favorece também o diálogo ecumênico com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais. A Igreja Católica reiterou também nesta Assembleia sinodal a sua profunda convicção de continuar tal diálogo, para que se realize completamente a oração do Senhor Jesus “para que todos sejam uma só coisa” (Jo 17,21).

Aos cristãos no Oriente Médio se podem aplicar as palavras do Senhor Jesus: “Não tenhais medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino” (Lucas 12:32). De fato, embora pouco numeroso, eles são portadores da Boa Nova do amor de Deus pelo homem, o amor que se revelou precisamente na Terra Santa, na pessoa de Jesus Cristo. Esta Palavra de salvação, fortalecida pela graça dos Sacramentos, ressoa com particular eficácia nos lugares onde, por divina Providência, foi escrita, e é a única palavra capaz de romper o ciclo vicioso da vingança, do ódio, da violência. De um coração purificado, em paz com Deus e com o próximo, podem nascer propósitos e iniciativas de paz em nível local, nacional e internacional. Nesse trabalho, a cuja realização é chamada toda a comunidade internacional, os cristãos, cidadãos com todos os direitos, podem e devem dar a sua contribuição com o espírito das bem-aventuranças, tornando-se construtores de paz e apóstolos de reconciliação para o benefício de toda a sociedade.

Perduram há muito tempo no Oriente Médio os conflitos, as guerras, a violência, o terrorismo. A paz que é dom de Deus, é também o resultado dos esforços dos homens de boa vontade, de instituições nacionais e internacionais, especialmente dos Estados mais envolvidos na busca da solução dos conflitos. Jamais se deve resignar-se à falta de paz. A paz é possível. A paz é urgente. A paz é a condição indispensável para uma vida digna da pessoa humana e da sociedade. Paz também é o melhor remédio para evitar a emigração do Oriente Médio. “Peçam a paz para Jerusalém” – nos diz o Salmo (122, ). Rezemos pela paz na Terra Santa. Rezemos pela paz no Oriente Médio, comprometendo-nos para que tal dom de Deus oferecido aos homens de boa vontade se espalhe pelo mundo inteiro.

Outra contribuição que os cristãos podem dar à sociedade é a promoção de uma verdadeira liberdade religiosa e de consciência, um dos direitos fundamentais da pessoa humana que cada Estado deveria sempre respeitar. Em muitos países do Oriente Médio, há liberdade de culto, enquanto o espaço da liberdade religiosa em muitos casos é muito limitado. Ampliar esse espaço de liberdade se torna uma exigência para assegurar todas as pessoas pertencentes às várias comunidades religiosas a verdadeira liberdade de viver e professar a sua fé. Esse argumento poderia se tornar objeto de diálogo entre cristãos e muçulmanos, diálogo cuja urgência e utilidade foi reafirmada pelos Padres sinodais.

Durante os trabalhos da Assembleia foi enfatizada com frequência a necessidade de repropor o Evangelho às pessoas que o conhecem pouco, ou que até mesmo se afastaram da Igreja. Com frequência foi evocada a urgente necessidade de uma nova evangelização também para o Oriente Médio. Trata-se de um tema muito comum, especialmente em países de antiga cristanização. Também a recente criação do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização responde a esta profunda exigência. Por isso, após ter consultado o episcopado do mundo inteiro, e após ter ouvido o Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, decidi dedicar a próxima Assembléia Geral Ordinária em 2012, ao seguinte tema: “Nova evangelizatio ad christianam fidem tradendam - “Nova evangelização para a transmissão da fé cristã”.

Queridos irmãos e irmãs do Oriente Médio! A experiência destes dias dê a vocês a certeza de que não estão sozinhos, que os acompanham sempre a Santa Sé e toda a Igreja, nascida em Jerusalém, e que se espalhou por todo o Oriente Médio e, depois, por todo o mundo. Confiamos a aplicação dos resultados da Assembleia Especial para o Oriente Médio, bem como a preparação da Assembleia Geral Ordinária, à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja e Rainha da Paz. Amém.

sábado, 16 de outubro de 2010

Ministro Geral OFM fala no Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio

Intervenção do Ministro Geral OFM no Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio

No dia 12 de outubro, estando presente o Santo Padre, o Ministro Geral, Fr. José Rodriguez Carballo, OFM, participante do Sínodo para o Oriente Médio como representante dos Superiores Gerais, fez a seguinte intervenção no salão sinodal...

Comunhão e Testemunho: o diálogo não tem alternativa

Santidade, Eminências, Beatitudes, Excelências, Irmãos e Irmãs:
Na minha intervenção farei menção ao tema central do Sínodo: Comunhão e testemunho, e a diversos números do Instrumentum Laboris do Sínodo.

“Surge do Ocidente e chega até o Oriente” [1], assim se expressa um antigo Ofício litúrgico
escrito em italiano e grego em honra a São Francisco de Assis. O mundo cristão e o mundo
islâmico estavam profundamente em oposição. No contexto da cruzada, São Francisco parte
para o Oriente. Não vai contra ninguém (expressão usada para conseguir voluntários) para as cruzadas, senão em meio a, entre, como ele mesmo diz em sua Regra (1Rg 16, 5). Não vai com as armas, nem movido pelo afã de conquista, senão com a firme vontade de encontrar-se com o outro, o diferente e, naquele contexto, com o inimigo. Antes do encontro com o Sultão, Malik AL Kamil, o Pobrezinho havia tentado persuadir os cristãos a não combaterem, predizendo a derrota. Tudo foi em vão. Ninguém o escuta. Francisco sai do acampamento cruzado e se dirige a Damietta. Era o ano de 1218. Ali tem lugar o encontro. É o encontro entre dois crentes. As barreiras caíram e os preconceitos também. Em seu lugar, levanta-se a ponte do diálogo e do respeito. E o que não foi conseguido com as armas, consegue-se com o testemunho humilde do cristão Francisco, pois como tal se apresenta.

Desde então, nós, os “frades da corda”, como são conhecidos no Oriente Médio os
franciscanos, poderão permanecer naquela terra, sem interrupção, por um plano da
Providência e por vontade da Sé Apostólica; não sem perseguições, como o Senhor mesmo anuncia e como o demonstram tantos mártires através dos séculos, construindo pontes
de encontro e derrubando os muros dos pré-juízos e dos fundamentalismos. Fazemo-lo
com os irmãos de outras confissões cristãs, entre outras formas, compartilhando o mesmo
teto e os mesmos lugares de culto, no Santo Sepulcro e em Belém. Fazemo-lo com os
seguidores do Islã, particularmente em nossas escolas, em muitas das quais a maioria
dos alunos são muçulmanos, e em numerosas obras sociais, onde acolhemos a todos, sem
distinção de credo. Em ambos os casos é o “diálogo da vida”, que não é sempre fácil, mas ao
longe, sempre o mais frutuoso. Fazemo-lo com os judeus, especialmente através do
estudo das Sagradas Escrituras na Faculdade de Ciências Bíblicas e Arqueologia de
Jerusalém [2]. É o diálogo bíblico e teológico, tão importante naquela região e
particularmente em Jerusalém. Ao mesmo tempo, custodiamos os lugares santos em nome da
Igreja Católica e cuidamos das “pedras vivas”, dos fiéis a nós confiados.

Esta é a vocação dos filhos do Pobrezinho, um dos carismas de nossa Ordem (João Paulo
II); esta é a vocação da Igreja, particularmente na terra regada com o sangue do
Redentor. O diálogo, feito encontro, não tem alternativa, tem alternativas nas relações
com outras comunidades cristãs: diálogo ecumênico [3], com as quais o diálogo se baseia na
escuta e no respeito recíproco; nas relações com o Judaísmo e com o Islã: o diálogo
inter-religioso [4], que passa pelo reconhecimento dos bens espirituais e morais que
existem nas ditas religiões (cf. NA 2), mas, segundo a metodologia  proposta por São Francisco
em sua Regra, este diálogo também passa necessariamente para a confissão da própria fé, sem
sincretismos nem relativismos, com muita humildade e sem promover disputas, confessando com a vida em todo momento a fé cristã e, quando agradar ao Senhor, também com a palavra (cf. 1 Rg 16, 6-7). O diálogo tampouco tem alternativas em relação com todo processo de paz para a região. Neste caso, os cristãos, situando-se super partes [5], buscando sempre o respeito da justiça e dos direitos de todos, particularmente das minorias. Não podemos ser
ignorados neste processo, mesmo que sejamos minoria, nem tampouco podemos calar-nos,
mesmo quando temos a impressão de que ninguém nos escuta.

Frente ao triste espetáculo (cf. Lc 23, 48) dos conflitos que se dão na Terra Santa, frequentemente se prefere uma leitura “leiga” que fala do direito dos povos que habitam aquela terra, de autodeterminação, de democracia..., evitando deste modo uma leitura mais profunda dos conflitos. Se é certo que não terá paz entre as nações sem paz entre as religiões, e não terá paz entre as regiões sem o diálogo entre as religiões, os cristãos,
particularmente na Terra Santa, somos chamados a mostrar ao mundo que as religiões, vividas na autenticidade, estão a serviço do entendimento entre os diferentes, a serviço da paz. Neste sentido, a reconciliação na região do Oriente Médio passa pelo encontro
entre as religiões, e para nós cristãos passa, em primeiro lugar, pelo encontro/diálogo entre as distintas confissões cristãs, enquanto que entre os católicos passa por uma verdadeira e profunda comunhão que vai mais além das diferenças culturais e rituais das diferentes igrejas; diferenças que, longe de ser um atentado contra a unidade, são uma manifestação da beleza da igreja católica, que vive a plena comunhão de fé, respeitando a pluralidade de expressões. Contra a idéia amplamente difundida de que as religiões estão
na base dos conflitos, particularmente nós cristãos, seguindo fielmente as orientações que nos foi dada no Concílio Vaticano II em relação ao diálogo com outras religiões, somos chamados a mostrar que a verdadeira experiência religiosa é forjar corações reconciliados e reconciliadores. De minha parte, estou convencido que a metodologia mostrada por São Francisco é plenamente atual [6].

Se isto é válido para todo o Oriente Médio, é de modo particular para a Terra Santa e para
Jerusalém. Esta, de cidade conflitiva por excelência, deve chegar a ser a “cidade da aliança”
entre os povos e as religiões, o coração do diálogo inter-religioso, e não somente por ser um
microcosmos do universo e por sua situação geográfica – na Ásia, no cruzamento do
Mediterrâneo, da África e do Ocidente –, mas também por ser o umbigo teológico do mundo e por seu grande significado teológico para o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Isto que parece um sonho poderá ser uma bela e messiânica realidade se recordamos que a vocação que a Cidade Santa tem na Bíblia é a de ser mãe de todos os povos, não a amante de um só
povo [7]. Em todo caso, o diálogo, sem renunciar à própria identidade, tende a alargar
o próprio horizonte até o ponto de compreender o horizonte do outro.
“Paz e justiça se abraçarão”, canta o Salmo 85. A reconciliação será possível somente se cada um dos pretendentes perdoa e abandona a pretensão de ser o único amante. Este é o
preço a pagar pela paz. “Entre ti e mim não haja disputas”, lemos na Sagrada Escritura.
Por que os filhos de Abraão esquecem a capacidade de seus pais? A paz e a vida prometidas
a Jerusalém batem à porta de judeus, cristãos e muçulmanos. É o momento de acolher ao
Deus paz, ao Adonai Shalom.

“Bem-aventurados os construtores da paz” (Mt 5,9). Para nós cristãos,
particularmente aos que habitam a Terra Santa e, mais concretamente, em Jerusalém, é o
momento de trabalhar incansavelmente pela paz, sendo pontes entre o mundo hebraico e
o mundo muçulmano. Mas esta vocação, por si só muito difícil, somente será possível se nós cristãos soubermos manter nossa própria identidade, e na medida em que trabalhemos para
reencontrar a unidade perdida de todos os seguidores do Senhor Jesus: Sem comunhão não há
Testemunho (Bento XVI).

Uma última consideração. Pelo que conheço do Oriente Médio, estou plenamente
convencido que é urgente ajudar os cristãos a reforçar sua identidade de discípulos e
missionários e, portanto, faz-se necessário uma nova evangelização que ponha o Evangelho
no centro da vida de quantos creem em Cristo. Neste contexto, faço quatro propostas:

1) Elabore-se um catecismo único para todos os católicos do Oriente Médio.

2) Leve-se a termo iniciativas concretas para uma formação adequada às exigências da nova
evangelização e da situação particular do Oriente Médio, para todos os agentes de
pastoral: sacerdotes, religiosos e leigos.

3) Em continuidade com o ano paulino, celebre-se um ano dedicado a São João em todas as igrejas do Oriente Médio, possivelmente com os irmãos das igrejas não católicas.

4) Apóie-se os estudos bíblicos, especialmente através dos três Institutos Bíblicos já
presentes em Jerusalém: A Faculdade de Ciências Bíblicas e de Arqueologia, dos Franciscanos,
L’Ecole Biblique, dos Dominicanos, e o Instituto Bíblico, dos Jesuítas.

Desejo, concluindo, que diante da constante diminuição dos cristãos na Terra Santa, este
Sínodo proclame uma palavra de alento às comunidades cristãs e particularmente
católicas naquelas terras, de modo que não se sintam sós, graças à solidariedade em favor
da Igreja mãe de Jerusalém. Seja o Sínodo uma ocasião propícia para apoiar com força
o diálogo ecumênico e inter-religioso. Do Sínodo, enfim, saia uma intensa e
confiante oração pela paz no Oriente Médio e em Jerusalém, assim como um convocação
urgente a quantos têm em suas mãos o destino dos povos do Oriente Médio e,
particularmente, da Terra Santa, para que escutem o grito de tantos homens e mulheres de
Boa vontade que clamam pela paz e respeito pela justiça.

________________________________________

[1] Rico Esposo da Pobreza. Ofício litúrgico ítalo-greco para Francisco de Assis, Ed. Crítica,
Tradução e comentários a cargo de Anna Gaspari. Ed. Antonianum, Roma 1010, p. 57.

[2] A Faculdade de Ciências Bíblicas e de Arqueologia recebe, desde os anos 70 estudantes de
Igrejas orientais não somente católicas, como também ortodoxas.

[3] Instrumentum Laboris cf. n. 76-84

[4] Instrumentum laboris cf. n. 85-99

[5] Penso que neste sentido a Custódia da Terra Santa, ao ser uma entidade internacional
desde suas origens até hoje, pode prestar um grande serviço de ponte entre o povo
Palestino e o povo israelense.

[6] O Santo Padre, Bento XVI, durante sua peregrinação à Terra Santa, no dia 13 de maio de
2009, no campo dos refugiados de Ainda, Belém, recordou o caminho da “não
violência”, seguida por São Francisco como o caminho para superar o terrorismo e o
fundamentalisno. O Santo Padre falava tendo a seus ombros o muro que separa Belém e
Jerusalém.

[7] O Santo Padre, Bento XVI,sempre na peregrinação à Terra Santa, disse que
Jerusalém “é chamada mãe de todos os homens. Uma mãe pode ter muitos filhos, que
Ela deve reunir e não separar”.
Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Uma nova aurora deve surgir no Oriente Médio: este é o apelo do Sínodo

(12/10/2010) Uma nova aurora para o Médio Oriente: foram os votos expressos pela assembleia especial do Sínodo dos bispos para aquela região. Nesta terça feira, na presença do Papa, os padres sinodais chamaram a atenção também sobre o Iraque pedindo o fim dos conflitos. Foram já eleitos os membros da comissão encarregada de redigir a mensagem final. Segunda feira pela tarde foi dado espaço aos relatórios continentais dedicados às relações entre o Médio Oriente e os outros continentes.

Trabalhar todos juntos para preparar uma nova aurora para o Médio Oriente. Este é o pedido do Sínodo lançando um apelo para que terminem os conflitos, as correntes agressivas do Islã e haja respeito pela liberdade religiosa. Em primeiro plano o Iraque: sem diálogo não haverá paz e estabilidade, dizem os bispos, e as vozes devem unir-se na denúncia do grande negócio econômico do comércio das armas. Os cristãos querem viver em paz e liberdade, em vez de sobreviver, e o êxodo, definido mortal, é um desafio que deve ser enfrentado.

Embora não esteja presente no Sínodo como país do Médio Oriente, o Afeganistão, contudo, foi recordado na solidariedade pelos padres sinodais, por causa das tribulações vividas pela população local.
Foi referida a responsabilidade das potencias ocidentais, em particular daquelas que cometeram erros históricos em relação ao Oriente Médio, para que o grito de justiça e de paz na região não permaneça sem ser ouvido. O sínodo reafirma também a colaboração entre as igrejas orientais e aquelas do Magrebe, e define imperativa a importância dos mass media; de fato, graças a eles podem difundir na população as noções sobre cidadania, igualdade, aceitação da diversidade, evitando a manipulação das massas e a deriva para o extremismo.

A aula sinodal enfrentou depois o diálogo entre cristãos e muçulmanos, visto como um enriquecimento recíproco: do Islã os cristãos podem aprender a ser mais praticantes, enquanto que a sua proximidade ao Evangelho faz com que os muçulmanos possam ter uma leitura critica do Corão. Nesta óptica os padres sinodais lamentam iniciativas provocatórias em relação ao Islã, enquanto que encorajam as atividades dos escoteiros, em que os rapazes se encontram lado a lado sem distinção de credo.

Depois os dados confortantes sobre a educação: no Médio Oriente, a Igreja católica cuida de milhares de instituições escolares com cerca de 600 mil alunos, quatro universidades, oito institutos superiores eclesiásticos e pelo menos 10 seminários de vários ritos. Muito apreciados, todos estes centros estão abertos também aos mais pobres. Assinalada também a importância de um laicato maduro na fé e consciente na vocação, assim como dos movimentos eclesiais e das novas comunidades, que não representam uma ameaça, mas um apoio precioso e indispensável para revitalizar a evangelização.

Os trabalhos desta segunda feira à tarde estiveram os cinco relatórios continentais dedicados às relações entre o Oriente Médio e o resto do mundo. Denominador comum foi a questão das migrações que levam os cristãos do Oriente Médio a todas as partes do mundo. Reafirmado portanto o apoio, também através da Caritas Internacional, àqueles que vivem na diáspora, assim como a necessidade de comunhão e a importância da herança cultural cristã do Oriente Médio, a qual, sobretudo na Europa, desperta a consciência dos fiéis.

Foi predita também a justa formação dos leigos e dos presbíteros, em vista de uma ação missionária partilhada. Foi ainda referida a reflexão sobre a liturgia, que se estiver enraizada na tradição, ajuda a preservar a vivacidade da fé, e a renovação da atividade missionária, pois que a Igreja do Oriente Médio não deve ter medo nem vergonha de pregar o Evangelho. Finalmente foi recordada a importância da difusão da cultura bíblica, para que a Palavra de Deus seja o fundamento da educação, do ensino e do diálogo para construir uma civilização pacifica.

Dados recentes sobre o número de cristãos no Oriente Médio

Entre os principais temas discutidos no Vaticano, na abertura do Sínodo dos Bispos da Igreja Católica no Oriente Médio, destaca-se a normalização do processo de paz e a posição contra o extremismo.
A agência de notícias Reuters, a propósito do início dos trabalhos sinodais, publicou dados sobre o número de cristãos que vivem no Oriente Médio:
•TURQUIA: 85 mil cristãos (cerca de 0,2% da população), dos quais 20 mil são católicos das tradições  armênia, síria e caldeia

•LÍBANO: 1,5 milhões de cristãos (cerca de 35% da população), dos quais cerca de dois terços são católicos maronitas, melquitas, armênios e sírios e armênios;

•ISRAEL: 150 mil cristãos (cerca de 2% da população), dos quais 85 mil são católicos romanos;

•TERRITÓRIOS PALESTINOS: 50 mil cristãos (cerca de 0,8% da população), dos quais 17 mil são católicos;

•EGITO: 8 milhões de cristãos (cerca de 10% da população), dos quais 250 mil são católicos;
•JORDÂNIA: 150 mil cristãos (2,4% da população), a maioria ortodoxa, mas há pequenos grupos de católicos, cristãos da tradição armênia e os protestantes

•SÍRIA: 850 mil cristãos (cerca de 4,5% da população), a maioria dos quais são ortodoxos, mas há 400 mil católicos das tradições síria, melquitas, maronitas, armênios e caldeus;

•IRAQUE: 850 mil cristãos (cerca de 3% da população), dos quais 400 mil são católicos, a maioria das tradições síria e caldeia.  Muitos cristãos fugiram do país ou foram deslocados após a invasão dos EUA em 2003;

•IRÃ: 135 mil cristãos (cerca de 0,3% da população), dos quais 20 mil são católicos, principalmente caldeus.

A fonte desta informação para Reuters foram dados de L’Oeuvre d’Orient, CIA World Fact Book, Departamento de Estado dos EUA.

Bento XVI abre o Sínodo dos Bispos para Igreja no Oriente Médio com apelo à paz e à justiça

Na missa abertura do Sínodo para o Médio Oriente, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, neste domingo, 10, o papa Bento XVI pediu um esforço comum das religiões e da comunidade internacional em favor da paz no Médio Oriente, recusando “qualquer expressão de violência”.

“Todos são chamados a dar o seu próprio contributo: a comunidade internacional, apoiando um caminho fiável, leal e construtivo em direcção à paz; as religiões mais presentes na região, promovendo os valores espirituais e culturais que unem os homens e excluem qualquer expressão de violência”, disse o Papa.

O Sínodo é uma assembleia consultiva de bispos que representam o episcopado católico, convocados para ajudar o Papa no governo da Igreja.

A Reunião

A Assembleia deve reunir 185 participantes até o dia 24 deste mes discutindo o tema “A Igreja Catolica no Oriente Medio: comunhao e testemunho. ‘A multidao dos fieis tinham um so coraçao e uma so alma’” (At 4,32). Do Brasil, participa o arcebispo de Aparecida (SP) e presidente do Conselho Episcopal Latino-americando, dom Raymundo Damasceno Assis.

Lembrando “a delicada e muitas vezes dramática situação social e política de alguns países”, o papa defendeu a necessidade de “favorecer as condições de paz e de justiça, indispensáveis para um desenvolvimento harmoniosos de todos os habitantes da região”.

A unidade das Igrejas católicas árabes também esteve no centro da intervenção do papa que uma maior “comunhão da Igreja Católica no Médio Oriente”.

“É a terra de Abraão, de Isaac e de Jacob; a terra do Êxodo e do regresso do exílio; a terra do Templo e dos Profetas; a terra em que o Filho Unigénito nasceu de Maria, ali viveu morreu e ressuscitou; é o berço da Igreja, constituída para levar o Evangelho de Cristo até aos confins do mundo”, disse.

Bento XVI destacou a importância de promover a unidade “no interior de cada Igreja, entre todos os seus membros” e nas relações com as outras Igrejas.

“Não obstante as dificuldades, os cristãos da Terra Santa são chamados a reavivar a consciência de serem pedras vivas da Igreja no Médio Oriente, junto dos Lugares santos da nossa salvação”, acentuou.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Novo Centro de Espiritualidade dos Frades Capuchinhos em Jerusalém

Os frades capuchinhos abriram um novo centro de espiritualidade em Jerusalém, intitulado “Eu sou a luz do mundo”, informa a cúria geral da congregação. O núncio apostólico no local, Antonio Franco, o patriarca latino de Jerusalém, Dom Fouad Twal, o patriarca emérito, Michel Sabbah, o custódio da Terra Santa, Pierbattista Pizaballa, o ministro geral dos capuchinhos, Mauro Jöhri (foto), e o bispo da diocese italiana de Bérgamo, Dom Francis Beschi, participaram da inauguração, no dia 28 de setembro.


A nova casa não é um centro de peregrinação, mas um local destinado aos frades capuchinhos que estudam em institutos bíblicos ou participam de outros cursos em Jerusalém. Serve ainda para grupos ou pessoas em estadia de formação espiritual.

No jardim da casa plantaram-se dez oliveiras, como reconhecimento e gratidão a todos os que trabalharam com dedicação, compromisso e paixão para criar o novo centro.

A história da casa remonta a 1930, quando os frades capuchinhos, animados pelo convite do então patriarca arcebispo Lugi Barlassina, decidiram construir um convento na área judaica de Jerusalém.

O projeto não fora então realizado porque os capuchinhos tiveram de abandonar Jerusalém durante a Segunda Guerra Mundial. O Estado utilizou posteriormente parte dessa propriedade para um hospital psiquiátrico.
Contudo, o velho projeto reviveu-se nos anos noventa e pode-se completar graças à significativa colaboração de um arquiteto de Bérgamo na renovação do edifício, assim como aos incansáveis esforços dos frades capuchinhos e ao apoio de inúmeros benfeitores

Reconciliação na Terra Santa: sinal de nova era

 "A reconciliação nesta região, na segurança de Israel, no desarmamento dos violentos e dos terroristas, na pátria para os palestinos, é difícil, mas será um sinal profético de uma nova era para o mundo." Assim afirmou Andrea Riccardi, no último domingo, no XXV Encontro Internacional pela Paz que aconteceu em Barcelona de 3 a 5 de outubro, com o tema "Conviver num tempo de crise. Família dos povos, Família de Deus".

Riccardi acrescentou que "temos que alcançar uma solução compartilhada, sem esconder as dificuldades". A Comunidade de Sant'Egidio e o arcebispado de Barcelona organizaram este encontro que renova o espírito do Dia de Oração de Assis, convocado por João Paulo II no ano de 1986.

Os debates e orações procuram fomentar a paz em todos os lugares do mundo, ainda que a presente edição dedique uma atenção especial, entre outras questões, ao Oriente Médio, informou a Comunidade de Sant'Egidio. Já no ato inaugural, participaram o ministro de Relações Diplomáticas e da Diáspora de Israel, Yuli Yoel Edelstein, e o de Assuntos Religiosos da Autoridade Nacional Palestina, Mahamoud Al-Habash.

O ministro palestino expressou seu desejo de que "Israel acolha com as mãos estendidas" porque "o caminho para a paz é claro e agora devemos aplicar o método do diálogo". Ambos os políticos mostraram seus desejos de alcançar a paz, diante de mais de 350 autoridades políticas e religiosas, entre elas o presidente de Montenegro, Filip Vujanovic, o rabino chefe de Israel, Yona Metzger, e o ministro egípcio para Assuntos Religiosos, Zakzouk.

O diálogo entre os dois ministros palestinos e israelenses continuou na segunda-feira, num dos diversos colóquios que o encontro está acolhendo, não apenas em Barcelona, mas também em outras cidades próximas, entre elas Tarragona e Terrassa.


Ambos condenaram a violência contra os livros sagrados e contra as sinagogas e mesquitas, lamentando o ataque a uma mesquita na Cisjordânia no domingo.

Para o ministro palestino, a relação com Gaza é um problema exclusivamente interno dos palestinos, que "será resolvido quando forem definidos os limites do Estado palestino" e declarou que será possível um diálogo entre Hamas e Fatah, como aconteceu no seio de toda comunidade política.
O ministro israelense elogiou o diálogo em Barcelona pela Comunidade de Sant'Egidio e afirmou que, se quiser avançar, não deve ter medo ao falar dos problemas, dos refugiados, de Jerusalém.

Ortodoxos

O encontro começou no domingo pela manhã, com uma Missa na Igreja de Santa Maria do Mar de Barcelona, presidida pelo cardeal Sistach. Pela primeira vez na Espanha, a homilia foi pronunciada por um metropolitano russo ortodoxo, exarca da Bielo-Rússia, Filarete, que faz parte de diversas delegações de patriarcado de Moscou, junto ao responsável pelas Relações Exteriores desse patriarcado, o metropolitano Hilarion, e outros metropolitanos.

Durante a Missa, foi lida a mensagem que o Papa enviou ao encontro por meio do secretário do Estado Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone. Esta cúpula mundial de religiões e culturas tem uma grande relação com a visita que o Papa fará a Barcelona dentro de um mês, segundo o arcebispo da arquidiocese, Cardeal Lluís Martíenez Sistach.

"Nestes dias, reúne-se aqui uma família de povos, que é a família de Deus, e é algo muito querido por Bento XVI, como o diálogo entre as religiões", declarou na sexta-feira, na coletiva de imprensa da apresentação do Encontro Internacional pela Paz.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Francisco, o homem do diálogo


Muito me alegra o convite feito pela OFS (Ordem Franciscana Secular), com a autorização dos padres diocesanos desta querida paróquia de Nossa Senhora da Paz, Ipanema. O motivo do júbilo é poder hoje celebrar São Francisco de Assis nesta paróquia, que foi dos Frades Menores, com muita saudade, até 1992.

Poderíamos falar por duas ou três horas contínuas do nosso Santo Fundador, quem sabe abordando outros aspectos de sua vida e experiência encarnada do Evangelho. Contudo, devido à exigüidade do tempo, apraz-me falar de Francisco, como homem do diálogo.

Logo depois de sua conversão, Francisco de Assis resolveu ir a Roma para pedir a aprovação da sua forma de vida. Poderia muito bem ter se encaixado numa estrutura de sua época, estável ou confinada nos limites de uma diocese, como por exemplo, a estrutura dos beneditinos. Porém, chamado por Deus, Francisco quis ir além das fronteiras de Assis. Depois de aprovada a Regra pela Igreja, Francisco decide ir até o Oriente Médio. Na época das Cruzadas, aporta no Egito em 1219 e procura o Sultão Melek-el-Kamel para um diálogo com ele. Trava-se ali um diálogo diferente, ou seja, duas grandes religiões começam a se entender, não pela destruição da espada, nem pela destruição causada pela espada cortante de discursos racionais, na tentativa de convencer o outro abraçar a minha religião. Este diálogo foi o marco zero, que abriu caminho para a Igreja católica. A partir deste momento, os franciscanos se instalaram no Egito e também na Palestina (Israel) e lá vivem ininterruptamente até os dias de hoje. Sempre que surge uma disputa entre as religiões, os franciscanos são chamados para apaziguar os ânimos, pela via da paz. Assim, abre-se o leque de compreensão, de que a religião é boa, desde que aplicada para o bem da humanidade, onde haja tolerância e mútuo respeito pelo sagrado que é cultuado em cada tradição, seja ela cristã católica, cristã ortodoxa, cristã protestante, cristã pentecostal, judaica, muçulmana ou qualquer outra tradição religiosa. Exemplo disso podemos constatar nos dias atuais. Se a Igreja católica quiser organizar um evento ecumênico ou inter-religioso, não convoca as religiões para Roma e sim para Assis, porque lá os franciscanos lhes abrem as portas ao diálogo e à tolerância religiosa.

Os seguidores da espiritualidade franciscana eram, no início, apenas católicos, formando assim a Ordem dos Frades Menores, a Ordem das Clarissas, Ordem Terceira (Ordem Franciscana Secular) e mais tarde, a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, a Ordem dos Frades Menores Conventuais. Contudo, outros também quiseram beber desta fonte inspiradora. Hoje, temos irmãos e irmãs franciscanos católicos, franciscanos ortodoxos, franciscanos luteranos, franciscanos anglicanos e porque não falar, de judeus e muçulmanos simpatizantes da espiritualidade franciscana, que são capazes de se sentarem juntos para refletir e beber desta fonte.

Se Francisco é o homem do diálogo, o que podemos aprender dele? 
1) Aprender a reconhecer dentro de mim o lobo que carrego, amansando este lobo para que ele se torne mais cordeiro e que dialogue com o próximo, pela via da paz, da justiça e da solidariedade;
2) Aprender dele que podemos dialogar com todas as culturas, porque em cada uma, apesar das diferenças, Deus é o mesmo;
3) Aprender a respeitar melhor o outro, como extensão de mim mesmo, como templo de Deus, independente da religião que ele pratique;
4) Aprender a dialogar com a natureza, no respeito das coisas criadas, que devem ser ajardinadas, como expressão da beleza do Criador e poder cantar com Francisco o Cântico das Criaturas;
5)    Aprender que é possível permanecer dentro da Igreja católica, não obstante as diferenças que existem em seus vários movimentos - muitas vezes ortodoxos e fanáticos - na linha da inclusão eclesial.
Frei Ivo Müller, OFM
Comissário

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Custódia concede 68 apartamentos aos cristãos locais

“Na alegria do nascimento, não esquecemos as dores do parto”. O Custódio da Terra Santa pronunciou estas palavras durante o discurso que pronunciou por ocasião do ato de entrega das chaves dos novos apartamentos a 68 famílias cristãs de rito latino de Jerusalém.

Com a esperança de conseguir algum dia estas casas, essas famílias há anos apresentaram todos os papéis da solicitação. Norma esperava há 27 anos poder alojar-se em uma casa da Custódia; Samir, desde o dia do matrimônio, há 14 anos; Hanan, por 6 anos.

A maior parte das familias recebeu a notícia na tarde anterior, até à noite. “À meia-noite e trinta o serviço administrativo nos chamou. Devíamos nos apresentar, os dois, na Custódia para firmar o contrato. Por causa da alegria não dormimos esta noite!”. Todas as histórias são semelhantes, todos os rostos deixam ver o cansaço, mas estão radiantes de felicidade. O padre Custódio esteve às 3 da madrugada recebendo as famílias; o padre Ibrahim, até às 5, ocupou-se das questões burocráticas. “Foi uma noite magnífica”, disse o Custódio, frei Pierbattista Pizzaballa, também ele visivelmente feliz pela notícia, mesmo sem esquecer os outros candidatos que não puderam ter acesso às casas.

Havia cerca de 700 famílias que sonhavam com esses 68 apartamentos de Betfagé. Somente para 68 delas o sonho se converteu em realidade. O restante vive desiludido pelo fato de não ter sido agraciado. Este foi o motivo pelo qual a notícia se difundiu no último momento e durante a noite, para evitar incidentes. “Procuramos ser justos na distribuição, mas sabemos que há gente que ficará descontente. Este projeto imobiliário não é o primeiro nem será o último da Custódia. Esperamos colocar em pé outro complexo em Pisgat Zeev. Além disso, seguimos restaurando casas na Cidade Velha”, explica o Custódio. “Essas casas são o fruto da generosidade dos cristãos de todo o mundo”, prosseguiu o padre Ibrahim Faltas, novo ecônomo da Custódia. “O custo foi de vários milhões de dólares e começou há 20 anos”.

Efetivamente, necessitou-se 15 anos para obter a permissão das autoridades israelenses para construir. Logo, quando iniciaram os trabalhos, começou a segunda Intifada e esta reduziu, ou melhor dito, interrompeu temporariamente o ritmo da construção, cujo arquiteto é um franciscano da Custódia, o padre Alberto Prodomo. Quando finalmente as casas estavam quase terminadas, uma controvérsia técnica com o município de Jerusalém bloqueou não somente o abastecimento de água ao complexo residencial São Francisco como também a conexão do fornecimento por parte da companhia elétrica. Isto custou outros três anos de burocracia administrativa.

Quatro Custódios, outros tantos ecônomos… O padre Dobromir, ecônomo anterior que estava “lutando” com as autoridades para obter essas preciosas permissões, também está aqui hoje. Ele foi quem se encarregou, em junho passado, de fechar todos os acordos com a prefeitura.

Alguns discursos oficiais, todos eles breves pois, apesar de todos esperarem a recepção, em que participariam também o Núncio Apostólico e o Discretório da Custódia, o ponto central de interesse está na obtenção das chaves. Não é a consignação dessas chaves gigantes que se entregam simbolicamente aos novos inquilinos, mas sim as chaves autênticas, as chaves destas casas que vão receber sem tê-las visto antes, nem sequer o terreno.

Uma vintena de pequenos edifícios de três andares com apartamentos que vão das 3 a 6 habitações cada um e que acolherão uma comunidade cristã composta de famílias de todas as idades, inclusive anciãos. Este amplo elenco de idades dos novos inquilinos do complexo residencial reflete a própria vida real.

Gladys fala tremendo ao microfone. Foram muitos os anos que toda sua família passou fazendo sacrifícios para poder chegar a pagar o aluguel, exorbitrante para eles - ainda que normal em Jerusalém, e até baixo – de 800 dólares ao mês. “De agora em diante pagaremos um quarto dessa soma e poderemos começar a fazer projetos para nós e nossos filhos”.

De fato, o objetivo desta ação da Custódia não visa o lucro, mas simplesmente pôr em prática a missão que a história lhe confiou, além das circunstâncias específicas do país. “Trata-se de uma de nossas missões mais difíceis de explicar aos países ocidentais. A Igreja da Terra Santa tem também um papel social. Israel ajuda os judeus, os muçulmanos aos muçulmanos e os cristãos aos cristãos. E a Igreja põe em atenção especial os mais pobres. É por isso que construir edifícios ou facilitar o alojamento aos cristãos locais é uma atividade normal para a Igreja da Terra Santa, e para a Custódia em particular. É uma obra que estamos relizando há 400 anos e é muito importante, sobretudo para aqueles que não têm meios para poder conseguir uma casa por seus próprios esforços. A terra aqui, e sobretudo em Jerusalém, tem um valor político tamabém que faz com que seu preço aumente e os cristãos hoje não podem afrontar essa inflação. Por isso, dispor de um espaço próprio, de uma casa própria é um estímulo para enraizar-se e ficar vivendo nesta terra”.

“Em Jerusalém, há uma enorme carestia de casas, pelo menos a preços acessíveis. A maior parte das casas deste tipo supõe um aluguel de uns mil dólares, enquanto que aqui o aluguel será muito mais moderado – continua o padre Ibrahim. Contudo, não nos esquecemos daqueles nos quais não pudemos contentar desta vez e que ficaram mal, ou inclusive chateados. Temos mais projetos. A Custódia tem já 500 casas na Cidade Velha e mais de 200 fora dos muros. Pretendemos frear realmente a emigração cristã, colocando à disposição
essas casas, mas não é possível satisfazer a todos ao mesmo tempo”.

Norma está feliz. Por causa da idade, tem dificuldades para caminhar e na Cidade Velha isto
representa um grave obstáculo. Mas há uma coisa da Cidade Velha que vai faltar realmente:
O Santo Sepulcro. “Tentarei, entretanto, ir pelo menos duas vezes por semana”. Para os filhos de Hanan, entretanto, não é fácil deixar o bairro de sua infância e seus companheiros. Raymond e sua mulher celebrarão aqui seu quinto aniversário matrimonial, com seus dois filhos, e não podem esconder o grande sorriso que se desenha em seus rostos.

Enfim, chega o momento de entrar para ver a casa. As famílias não podem acreditar no que veem, nem sequer se imaginam dentro delas. A alegria, junto ao cansaço, deixa-lhes sem palavras. “Não sei exatamente quando nos mudaremos – disse Samir ainda incrédulo –, mas o quanto antes”. Os novos e felizes inquilinos dormirão esta noite mais do que na noite anterior? Quem sabe. A emoção está no alto, nas estrelas, e o sonho apenas começou!

Mab


Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos

O difícil caminho de Emaús

Domingo, 26 de setembro. O santuário franciscano de Emaús al-Qubaibeh acolheu seu primeiro grupo de peregrinos depois de quatro meses. Por causa da festa dos santos Cléoas e Simeão, a Custódia não deixou de organizar a tradicional peregrinação a este povoado da Cisjordânia, onde a tradição situa o encontro de Jesus com os discípulos que caminhavam “com o rosto triste”.

No ônibus que conduz os frades a Emaús, o padre Beda não reconhece o caminho, e tem razão. O caminho tradicional, que a cada ano é mais difícil de atravessar, está agora totalmente cortado. Para ligar seus dois assentamentos, os israelenses construíram uma estrada nesta zona palestina e por “motivos de segurança” construíram outra para uso exclusivo dos palestinos. Mas, é realmente um caminho? À esquerda e à direita se erguem altos muros com cercas de arames farpados no topo. Sobre nossa cabeça não se vê o céu e, ao nosso redor, desaparece a paisagem.

Além disso, para poder ter acesso a essa estrada, a peregrinação da Custódia teve que pedir permissão e lhe foi concedida como favor a abertura excepcional do ponto de controle de Mahame Givon, evitando assim ter de entrar na Cisjordânia através do ponto de controle de Qalandiya. Favor este que, ainda por cima, aumentou o trajeto em vinte minutos. Mas é um favor do qual goza frei Franciszek Wiater, guardião do santuário. Para ir a Jerusalém, que está a somente 11 quilômetros, demora pelo menos uma hora, e “tudo depende do tempo de espera em Qalaniya. Pode cegar a ser duas horas”.

Este é o motivo pelo qual nenhum grupo vem a Emaús al-Qubaibeh. “Não é que não haja grupos que não querem vir celebrar aqui – assegura o porteiro do convento –, mas quando se lhes explica como chegar ao convento, desistem de fazê-lo”.

Comentando esta situação, frei Artemio Vítores, Vigário custodial, comparou a estrada como um difícil caminho “que os homens se empenham em fazer ainda mais difícil. Durante a missa, temos rezado pela paz, para que estes muros possam desaparecer e os homens possam encontrar caminhos de comunicação”.

Esse espírito de esperança foi destacado durante a homilia da missa que presidiu. “Estamos realmente convencidos de que Jesus é o centro de nossa vida e que a Cruz é o caminho à glória da Ressurreição? Cabe a nós pedirmos ao Senhor que fique conosco, para que passemos da tristeza à alegria da Páscoa, do pessimismo ao entusiasmo”.

Convencida e reconfortada por Cristo durante a Eucaristia, a pequena assembléia, que se uniu aos poucos cristãos dos arredores, voltou-se a reunir para um almoço fraterno no refeitório do convento.

Depois do almoço, os frades voltaram pela mesma estrada, com o desejo de levar a Jerusalém esta notícia: “Realmente Ele venceu a morte e ressuscitou!”.

Mab
Tradução: Frei Leonardo Pinto dos Santos